Resolvi conversar sobre
política com uma motorista de aplicativo e pintou um mal-entendido. Fiquei
chateado.
Comecei
a conversa perguntando se ela já tinha candidato à Prefeitura de Porto Alegre e
ela respondeu que sim. Vai votar no Sebastião Melo. Prefere o partido Novo, mas
acha que o candidato não tem chance e não vai desperdiçar o voto. Revelou-se
uma antipetista visceral, “não podemos deixar essa gente ganhar”, e acrescentou
que jamais votaria na Maria do Rosário, “defensora de bandidos”.
“Uma
candidata à Prefeitura tem é que cuidar das pessoas de bem”, explicou. E a
partir daí desfiou um rol de acusações ao PT, colocando-o como um partido de corruptos
que desviam o dinheiro que poderia ir para a Educação, Saúde e Segurança.
Era
uma moça simples, provavelmente cumpridora de longas jornadas de trabalho,
repetindo os lugares comuns da conversa direitista, do antipetismo raiz,
afirmando que os petistas “não defendem a população, o povo, e só querem nos
enganar”.
Eu
ouvi calado e por fim falei que entendia o PT como um partido como os outros,
com um ideário, um programa, e gente de tudo quanto é tipo. “Nem mais nem menos
corrupto que os demais partidos”, acentuei, tentando fazer a figura de sujeito
moderado e boa praça, compreensivo. E perguntei qual o partido que ela considerava menos
corrupto. “O PL”, ela respondeu. “Por que logo o PL, o partido do Valdemar da
Costa Neto?”, rebati, procurando uma forma de dizer quem era esse espertalhão,
dono de um partido de aluguel, capaz de qualquer coisa para ganhar dinheiro.
Ela pareceu não saber quem era Valdemar da Costa Neto e eu me senti incapaz de dizer
qualquer coisa, perplexo e paralisado por mais um “pobre de direita”.
A
moça chegou ao meu endereço, eu desci, e, justo quando estava com os dois pés
na calçada e fechava a porta do carro, desabafei: “Bá, mas o PL é foda, que
coisa!” Segui em direção ao meu edifício, rindo, virei para trás e vi que ela
estava parada, me olhando e voltei para falar com ela.
Voltei
e perguntei se acontecera alguma coisa. Ela pediu para eu repetir o que dissera
e menti que apenas falara que “o PL é terrível”. “Um partido horroroso, do meu
ponto de vista, não quis te ofender, longe de mim, cada um pensa como quer, eu
sou um sujeito que defende isso”, acrescentei.
Acho
que ela pensou que eu a mandara se foder... e fiquei chateado com a sua
desconfiança. “Longe de mim a intenção de te ofender, não pensa nisso”,
insisti. E retomei o caminho do meu prédio, enfiei a chave na porta de entrada
do edifício, lembrando dos meus alunos em Alvorada e Canoas, na virada
dos anos 70 para os 80, gurizada humilde que repetia a conversa
conservadora da época... Gente pobre e de direita, que coisa horrível, com os
quais (pretensiosamente) eu pretendia desenvolver “um pensamento crítico em relação a sociedade em que vivemos”. Que arrogância!
Que
merda!, digo agora. Nunca mais falar sobre política com quem não conheço. Nunca mais. Muito menos com motoristas de aplicativo, trabalhadores
submetidos a condições de trabalho terríveis... e muitas vezes defensores do
que muitos de nós chamamos de “novo e precário mundo do trabalho”. Defensores
convictos, apoiadores de coração.
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