sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Inês, uma mulher prevenida.

 

Inês é uma mulher cuidadosa. Tem um namorado chamado Roberto que mora fora da cidade, numa área semi rural, e, quando vai visitá-lo, avisa a sobrinha com quem deixou mapa e endereço.

Inês chegou aos 60 anos bem conservada, aparentando muito menos idade, com dois casamentos nas costas e, depois disso, um e outro namorados, “relacionamentos leves, sem maiores compromissos”, ela explica.

A casa de Roberto fica afastada da estrada e Inês mal escuta a passagem dos caminhões barulhentos que passam carregados de soja. Um silêncio que a encanta e assusta ao mesmo tempo.

Uma tarde o namorado pede para fotografá-la nua, ela acha graça, sente-se lisonjeada, e avisa: “Mas só da cintura pra cima.” O homem elogia os seus seios (dos quais se orgulha, pois sabe que na sua idade poucas os possuem tão firmes), e pousa para ele de brincos e colares, sentada numa poltrona, com o rosto de frente, de lado, enrolando os colares numa das mãos. “Uma verdadeira modelo”, Roberto incentiva. Depois ele acrescenta que a sua bunda também é linda, “mais durinha que a de muita guria”, quer fotografá-la também, e ela avisa, categórica: “Aí é demais, já disse.”

Quando adolescente, numa praia de rio, um namorado pediu para vê-la nua e ela se despiu. Tinha 18 anos, era virgem, o rapaz garantiu que só iria olhar e ela concordou. Tirou a roupa de costas e, quando virou para trás, viu que ele estava a pouca distância, com o sexo para fora das calças, apertando-o com uma das mãos, puxando-o para frente e para trás. O rapaz pediu que ela continuasse de costas, fizesse de conta que ia pegar alguma coisa no chão – “assim, mostrando toda a bunda” – e ela se achou obrigada a atender. Não sabia bem o que ele estava fazendo e se assustou quando alguma coisa líquida caiu nas suas pernas.

“O que é isso?”, ela perguntou. “Eu gozei”, ele respondeu, os olhos fechados de satisfação.

Ela foi até o rio se limpar e, mais de quarenta anos depois, lembra dessa cena ao se exibir para Roberto, cruzando e descruzando as pernas, fazendo caras e bocas. Mas não se sente mais obrigada a atender ao namorado ou a quem quer que seja. “Faço porque eu quero, porque me diverte. Afinal mudei, mudei muito,” ela conclui.

Depois se levanta, caminha pelo quarto, diz para ele deixar a máquina em cima da cômoda e se vira de costas. Abre bem as pernas, dobra as costas em direção ao chão e fala que era assim que um namorado de juventude pedia que ela fizesse.

“Eu ficava de costas, ele se excitava, se masturbava e às vezes até me respingava... Mas nunca transamos, eu não deixava. Eu queria casar virgem,” acrescenta, rindo.

O namorado se senta na beira da cama para melhor apreciar o corpo de Inês, repete os elogios à sua bunda e diz que ela “ainda merece uma homenagem”. Ajoelha-se para tocar o seu corpo, acariciar suas nádegas, beijá-las, enquanto Inês permanece na mesma posição, sentindo prazer em ter um homem que a admira e, mais do que isso, a deseja.

No entanto, Inês acha nojento “esse negócio de enfiar a cara na bunda”, jamais faria o mesmo com ele, mas deixa que ele faça. “Se passar dos limites, minha sobrinha sabe onde estou,” pensa. “Mas ela faria o quê?”, se pergunta na sequência. Está a mais de 20 quilômetros da cidade, numa área praticamente rural, com casas uma distante da outra, e, se aquele homem quiser, faz com ela o que bem entender.

Eles se conhecem há pouco tempo e Roberto é praticamente um desconhecido. Um homem determinado, que construiu a sua vida sem pestanejar, conquistou posição social confortável e não se curva diante de coisa alguma – muito menos de uma mulher, ela imagina. Inês gosta do seu perfil de homem tradicional, orgulhoso da sua condição de macho, mas às vezes se surpreende com os sinais de misoginia e homofobia que volta e meia ele expressa em atitudes e comentários. “Coisas que mudo com o tempo”, ela fantasia.

Então sente que ele a abraça por trás, a leva para a cama e a deita de bruços. Faz isso com certo vagar e muita determinação. Ela sabe o que ele pretende e se deixa conduzir. Estende-se no colchão macio, apoia o queixo, um braço para cada lado segurando as bordas da cama e empina o traseiro como ele pede. Tem medo de sentir dor, espera ele lubrificar o membro e aguarda. Sempre teme que ele faça o que todo o homem sonha... fica apreensiva e chega a temer o pior. Então se sente aliviada ao perceber que é a vagina que ele procura e relaxa. Na verdade, tenta relaxar, pois se conflitua entre o prazer de ter um homem que a deseja e o desprazer desse mesmo homem dominar o seu corpo e garantir o próprio gozo, “egoísta como todos os homens”.

“Ele mora numa casa com cerca elétrica,” disse para a sobrinha. “Tem sistema de alarme, mas é longe de tudo, um lugar tão silencioso que chega a dar medo. Quando não saímos para passear, ir a algum lugar, ficamos só nós dois, horas e horas.”

Inês fez um mapa para a sobrinha, indicou a localização da casa de Roberto e deu detalhes da sua construção. O muro de tijolos alaranjados, o portão pintado de verde, “tudo com cores vivas, não sei pra quê, tudo gritando.”

“E este mapa, nas tuas mãos, é uma garantia para mim,” ela disse. A sobrinha a escutou sem entender e perguntou: “Mas tu tens algum receio? Ele pode te fazer mal?” “Não”, Inês respondeu, “é só para o caso de acontecer alguma coisa. Afinal ele é homem e uma mulher precisa estar prevenida.”

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