Inês
é uma mulher cuidadosa. Tem um namorado chamado Roberto que mora fora da
cidade, numa área semi rural, e, quando vai visitá-lo, avisa a sobrinha com
quem deixou mapa e endereço.
Inês
chegou aos 60 anos bem conservada, aparentando muito menos idade, com dois
casamentos nas costas e, depois disso, um e outro namorados, “relacionamentos
leves, sem maiores compromissos”, ela explica.
A
casa de Roberto fica afastada da estrada e Inês mal
escuta a passagem dos caminhões barulhentos que passam carregados de soja. Um
silêncio que a encanta e assusta ao mesmo tempo.
Uma
tarde o namorado pede para fotografá-la nua, ela acha graça, sente-se
lisonjeada, e avisa: “Mas só da cintura pra cima.” O homem elogia os seus seios
(dos quais se orgulha, pois sabe que na sua idade poucas os possuem tão firmes),
e ela pousa para ele de brincos e colares, sentada numa poltrona, com o rosto de
frente, de lado, enrolando os colares numa das mãos. “Uma verdadeira modelo”,
Roberto incentiva. Depois ele acrescenta que a sua bunda também é linda, “mais
durinha que a de muita guria”, quer fotografá-la também, e ela avisa, categórica: “Aí é demais, já disse.”
Quando
adolescente, numa praia de rio, um namorado pediu para vê-la nua e ela se
despiu. Tinha 18 anos, era virgem, o rapaz garantiu que só iria olhar e ela concordou.
Tirou a roupa de costas e, quando virou para trás, viu que ele estava a pouca
distância, com o sexo para fora das calças, apertando-o com uma das mãos,
puxando-o para frente e para trás. O rapaz pediu que ela continuasse de costas,
fizesse de conta que ia pegar alguma coisa no chão – “assim, mostrando toda a
bunda” – e ela se achou obrigada a atender. Não sabia bem o que ele estava
fazendo e se assustou quando alguma coisa líquida caiu nas suas pernas.
“O
que é isso?”, ela perguntou. “Eu gozei”, ele respondeu, os olhos fechados de
satisfação.
Ela
foi até o rio se limpar e, mais de quarenta anos depois, lembra dessa cena ao se
exibir para Roberto, cruzando e descruzando as pernas, fazendo caras e bocas. Mas
não se sente mais obrigada a atender ao namorado ou a quem quer que seja. “Faço
porque eu quero, porque me diverte. Afinal mudei, mudei muito,” ela conclui.
Depois
se levanta, caminha pelo quarto, diz para ele deixar a máquina em cima da
cômoda e se vira de costas. Abre bem as pernas, dobra as costas em direção ao
chão e fala que era assim que um namorado de juventude pedia que ela fizesse.
“Eu
ficava de costas, ele se excitava, se masturbava e às vezes até me respingava...
Mas nunca transamos, eu não deixava. Eu queria casar virgem,” acrescenta,
rindo.
O
namorado se senta na beira da cama para melhor apreciar o corpo de Inês, repete
os elogios à sua bunda e diz que ela “ainda merece uma homenagem”. Ajoelha-se
para tocar o seu corpo, acariciar suas nádegas, beijá-las, enquanto Inês permanece
na mesma posição, sentindo prazer em ter um homem que a admira e, mais do que
isso, a deseja.
No
entanto, Inês acha nojento “esse negócio de enfiar a cara na bunda”, jamais
faria o mesmo com ele, mas deixa que ele faça. “Se passar dos limites, minha
sobrinha sabe onde estou,” pensa. “Mas ela faria o quê?”, se pergunta na
sequência. Está a mais de 20 quilômetros da cidade, numa área praticamente
rural, com casas uma distante da outra, e, se aquele homem quiser, faz com ela
o que bem entender.
Eles
se conhecem há pouco tempo e Roberto é praticamente um desconhecido. Um homem determinado,
que construiu a sua vida sem pestanejar, conquistou posição social confortável
e não se curva diante de coisa alguma – muito menos de uma mulher, ela imagina.
Inês gosta do seu perfil de homem tradicional, orgulhoso da sua condição de macho, mas às vezes se surpreende com os sinais de misoginia e homofobia que volta e meia ele expressa em atitudes e comentários. “Coisas que
mudo com o tempo”, ela fantasia.
Então
sente que ele a abraça por trás, a leva para a cama e a deita de bruços. Faz
isso com certo vagar e muita determinação. Ela sabe o que ele pretende e se
deixa conduzir. Estende-se no colchão macio, apoia o queixo, um braço para cada
lado segurando as bordas da cama e empina o traseiro como ele pede. Tem medo de
sentir dor, espera ele lubrificar o membro e aguarda. Sempre teme que ele faça o
que todo o homem sonha... fica apreensiva e chega a temer o pior. Então se sente
aliviada ao perceber que é a vagina que ele procura e relaxa. Na verdade, tenta
relaxar, pois se conflitua entre o prazer de ter um homem que a deseja e o
desprazer desse mesmo homem dominar o seu corpo e garantir o próprio gozo, “egoísta
como todos os homens”.
“Ele
mora numa casa com cerca elétrica,” disse para a sobrinha. “Tem sistema de
alarme, mas é longe de tudo, um lugar tão silencioso que chega a dar medo.
Quando não saímos para passear, ir a algum lugar, ficamos só nós dois, horas e
horas.”
Inês
fez um mapa para a sobrinha, indicou a localização da casa de Roberto e deu
detalhes da sua construção. O muro de tijolos alaranjados, o portão pintado de
verde, “tudo com cores vivas, não sei pra quê, tudo gritando.”
“E
este mapa, nas tuas mãos, é uma garantia para mim,” ela disse. A sobrinha a
escutou sem entender e perguntou: “Mas tu tens algum receio? Ele pode te fazer
mal?” “Não”, Inês respondeu, “é só para o caso de acontecer alguma coisa. Afinal
ele é homem e uma mulher precisa estar prevenida.”
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