quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A viúva Clicquot

 

Assisti ao filme sobre a mulher que criou o método clássico da produção do champagne: Nicole-Barbe Clicquot (1777-1866). Não sabia da sua existência. Um filme bonito, ambientado na França, no período napoleônico: “A viúva Clicquot: a mulher que formou um império”. Uma produção britânica (com atores britânicos e norte-americanos) e, consequentemente, falado em inglês.

Viúva Clicquot interpretada no filme por Haley Bennet.

O meu francês é rudimentar (aprendido no Ginásio e no Clássico), sou incapaz de compreender um filme francês sem legendas, mas gosto de ouvir a língua. Esses filmes com histórias francesas falados em inglês sempre me incomodam. Uma bobagem, claro. Não deixo de assisti-los por conta disso. Vi “Napoleão”, do Ridley Scott, e gostei (até dos exageros; alguns deles, cômicos).

O filme talvez apresente uma viúva demasiadamente emponderada e empreendedora. Mas convence. A atriz é muito boa, a narrativa é envolvente e bem convincente. Eu embarquei na história. Dei uma olhada no Google para conferir algumas informações e achei que o filme inventa pouco. Mas não desfaz o mito construído em torno dela. A mulher é fera no mundo dos negócios e eu saí do cinema convencido disso.

Nicole-Barbe Ponsardin se casou com François Clicquot, em 1798, e ficou viúva sete anos depois, com apenas 27 anos. O marido era um empresário do vinho (aumentou a produção da vinícola), fazia pesquisas para o melhoramento do seu produto, e, após sua morte, a viúva se colocou na direção dos negócios. E também no melhoramento do champagne. Foi a criadora do método champenoise, o método clássico da produção do champagne. E, segundo o filme, fez isso sozinha.

No filme, o sogro torce o nariz quando ela resolve se colocar no comando da empresa, mas parece que não foi bem assim. Ele bispou que ela tinha faro para negócios e lhe fez um empréstimo polpudo (de 835 mil euros, em valores atuais; R$ 4,5 milhões, na nossa moeda). Mas, no filme, fica legal ela enfrentando o poder masculino que excluía as mulheres do mundo empresarial. Havia até uma legislação que determinava isso. (A sociedade burguesa criada a partir da Revolução Francesa era menos favorável às mulheres do que o Antigo Regime.)

Na área comercial, no entanto, Madame Clicquot teve a colaboração de um jovem esperto, que furou o bloqueio comercial imposto pelo imperador Napoleão, e conseguiu levar algumas garrafas para a Rússia. O czar gostou da bebida e parece que foi aí o pulo do gato, isto é, a internacionalização do champagne, a criação do império indicado no subtítulo do filme. Quando a guerra com a Rússia terminou, Madame Clicquot passou a exportar para o mercado russo.

O final é apoteótico: a vinícola está crescendo com o fim das guerras napoleônicas e a viúva é chamada a um tribunal, que pretende impor a ela a legislação machista da época, isto é, retirá-la da direção da empresa. Ela não se mixa, enfrenta os juízes, e permanece no comando dos negócios. Uma empreendedora e tanto.

Saí do cinema com vontade de abrir uma garrafa Veuve Clicquot, sem saber, claro, que as mais baratas estão por volta de R$ 300,00, um precinho que não é pra qualquer um.

Madame Clicquot (1859-61) entre 82 e 84 anos.
Fonte: Wikipédia.


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