Assisti
ao filme sobre a mulher que criou o método clássico da produção do champagne:
Nicole-Barbe Clicquot (1777-1866). Não sabia da sua existência. Um filme bonito,
ambientado na França, no período napoleônico: “A viúva Clicquot: a mulher que
formou um império”. Uma produção britânica (com atores britânicos e norte-americanos) e,
consequentemente, falado em inglês.
Viúva Clicquot interpretada no filme por Haley Bennet. |
O
meu francês é rudimentar (aprendido no Ginásio e no Clássico), sou incapaz de
compreender um filme francês sem legendas, mas gosto de ouvir a língua. Esses
filmes com histórias francesas falados em inglês sempre me incomodam. Uma
bobagem, claro. Não deixo de assisti-los por conta disso. Vi “Napoleão” do
Ridley Scott falado em inglês e gostei (até dos exageros; alguns deles, cômicos).
O
filme talvez apresente uma viúva demasiadamente emponderada e empreendedora. Mas
convence. A atriz é muito boa, a narrativa é envolvente e bem convincente. Eu
embarquei na história. Dei uma olhada no Google para conferir algumas
informações e achei que o filme inventa pouco. Existe um mito em torno desta mulher e filme parece endossar. Eu embarquei e comprei a ideia de que ela era fera no mundo dos negócios. Saí do cinema
convencido disso.
Nicole-Barbe
Ponsardin se casou com François Clicquot, em 1798, e ficou viúva sete anos
depois, com apenas 27 anos. O marido era um empresário do vinho (aumentou a
produção da vinícola), fazia pesquisas para o melhoramento do seu produto, e,
após sua morte, a viúva se colocou na direção dos negócios. Além de administrar a vinícola, arregaçou as mangas para melhorar o champagne. Foi a criadora do método champenoise, o método
clássico da produção do champagne. E, segundo o filme, fez isso sozinha.
No
filme, o sogro torce o nariz quando ela resolve se colocar no comando da
empresa, mas parece que não foi bem assim. Ele bispou que ela tinha faro para
negócios e lhe fez um empréstimo polpudo (de 835 mil euros, em valores atuais; R$
4,5 milhões, na nossa moeda). Mas, no filme, fica legal ela enfrentando o poder
masculino (inclusive o sogrão) que excluía as mulheres do mundo empresarial. Havia até uma
legislação que determinava isso. (A sociedade burguesa criada a partir da
Revolução Francesa era menos favorável às mulheres do que o Antigo Regime.)
Na
área comercial, no entanto, Madame Clicquot teve a colaboração de um jovem
esperto, que furou o bloqueio comercial imposto pelo imperador Napoleão, e
conseguiu levar algumas garrafas para a Rússia. O czar gostou da bebida e
parece que foi aí o pulo do gato, isto é, a internacionalização do champagne, a
criação do império indicado no subtítulo do filme. Quando a guerra com a Rússia
terminou, Madame Clicquot passou a exportar para o mercado russo legalmente e se deu bem.
O
final é apoteótico: a vinícola está crescendo com o fim das guerras
napoleônicas e a viúva é chamada a um tribunal, que pretende impor a ela a
legislação machista da época, isto é, retirá-la da direção da empresa. Ela não se mixa, enfrenta os juízes, e permanece no comando dos negócios. Uma
empreendedora e tanto.
Saí
do cinema com vontade de abrir uma garrafa Veuve Clicquot, sem saber, claro, que as mais baratas estão por volta de R$ 500,00, um precinho que
não é pra qualquer um.
Madame Clicquot (1859-61) entre 82 e 84 anos. Fonte: Wikipédia. |
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