Em maio de 2023, estive no sítio arqueológico de
Dion, na Grécia, localizado ao sopé do Monte Olímpico, a montanha que servia de
moradia aos deuses gregos, Zeus e sua turma. Só existem ruínas, nenhuma parede
de templo religioso erguida e haja imaginação histórica para reconstruir o que
deveria ser o local. Parei no local onde se encontrava o Templo de Zeus e foi um
cartaz com desenhos e legendas que me deu algumas ideias do que deveria ser o
lugar: a monumentalidade do prédio, o local de sacrifício de animais e as
cerimônias de adoração. E confesso que fiquei um tanto decepcionado. Difícil
entender a Grécia Antiga.
Felizmente a visita foi completada pela ida ao
museu do sítio arqueológico e as peças ali encontradas – as esculturas e os
ornamentos escultóricos dos templos – funcionaram como um bálsamo, isto é,
possibilitaram um contato mais efetivo com essa antiga civilização. Não
encontrei nenhuma escultura de Zeus que me encantasse (talvez exista, não sei –
é tanta coisa que não dá para prestar atenção a tudo) e fui fisgado pelo material
a respeito do Templo de Ísis. A representação grega da deusa egípcia que se
encontrava na fachada do prédio (foto abaixo), mais uma escultura da deusa do
amor (Afrodite Hipolimpídia), mandada instalar ao redor do prédio religioso, na
mesma época da sua construção (século II a.C.).
Admirei as esculturas e lembrei os estudos de Plutarco, complicadíssimos, a respeito da deusa, seus ensinamentos religiosos, mais as reflexões filosóficas do autor abordando as voltas que os iniciados nos Mistérios de Ísis davam para adentrar nas verdades dadas a conhecer pela divindade.
Não, eu nunca compreendi a complexidade da religiosidade do Mundo Antigo. Meu conhecimento se limitou às generalidades e, mais do que tudo, fiquei restrito ao encantamento com a deusa. Visitei o seu famoso Templo de Philae, no Egito, e foi emocionante. Toquei as pedras que tanto peregrinos tocaram e pronto. Resumindo, não passei de um estudante de primeiras letras a respeito dessa crença que se expandiu do Egito para o mundo greco-romano. Mas um estudante que, ao final, aprendeu o seu lugar.
No Museu Arqueológico de Dion, senti o silêncio austero da deusa e me dei conta do meu lugar no mundo, isto é, o meu tamanho e limitação. Uma lição de humildade que à princípio vivenciei com tristeza e só hoje consigo dizer que não era para tanto. Afinal reconhecer a nossa condição humana, finita e limitada, não é uma aprendizagem banal. É um exercício de sabedoria também. Talvez um dos mais importante para um bem viver.
Observação: Plutarco foi um historiador grego que viveu entre 46 e 120 d.C. Seu tratado sobre Ísis e Osíris é uma das principais fonte de informação a respeito da deusa. E os ritos iniciáticos que aborda (os Mistérios de Ísis) é uma criação grega feita quando o culto a essa divindade egípcia se difundiu pelo mundo mediterrâneo no século IV a.C. Haja engenho e arte para decifrar as maravilhas dessa deusa.