domingo, 28 de maio de 2017

Os Guinle: a história de uma dinastia

A família Guinle construiu no Brasil uma legenda de sofisticação que dificilmente algum brasileiro de cultura mediana ignora. No imaginário brasileiro, essa aura está ligada ao Copacabana Palace e ao playboy Jorginho Guinle (1916-2004). O historiador Clóvis Bulcão, numa abordagem muito agradável da história dessa família – em Os Guinle: a história de uma dinastia (Intrínseca, 2015, 250 p.) –, explica, no entanto, que o famoso hotel e o esbanjador Jorginho foram apenas os sinais mais visíveis, talvez pitorescos, desse clã.

A riqueza da família foi construída a partir de uma concessão do Governo Imperial, em 1888, para a construção do porto de Santos. A licitação foi ganha pelos sócios Eduardo Palassim Guinle e Cândido Gaffrée, numa associação muito esperta com ilustres figuras do Império. A concessão para a exploração do porto era, segundo o edital, de 39 anos, mas rapidamente eles a expandiram para 92. A partir daí, remodelando as atividades do porto, expandindo a área de concessão, os sócios constituíram a Companhia das Docas de Santos e, feito um polvo, estenderam os negócios por outras áreas – como a imobiliária, bancária (criação do Banco Boavista) e siderúrgica –, sempre em sintonia com o poder público.
Eduardo Palassim e Cândido Gaffrée atravessaram incólumes a passagem da Monarquia para a República e mantiveram boas relações com os presidentes da República Velha. Depois, seus herdeiros da primeira geração conseguiram a mesma coisa com Getúlio Vargas (tanto na fase da ditadura do Estado Novo quanto no período democrático) e com Juscelino Kubitschek. Com o Regime Militar, porém, as coisas mudaram, ganharam poder os seus inimigos, os benefícios até então concedidos passaram a ser revistos e não houve habilidade política por parte dos gestores da Cia. das Docas em deter os adversários. A partir daí, iniciou-se a ruína. Os herdeiros da terceira geração não puderam gastar dinheiro à rodo, como haviam feito o avô e os pais. Jorginho Guingle (terceira geração) bem exemplificou essa situação: depois de gastar ao longo da vida 20 milhões de dólares (segundo seus próprios cálculos) foi acolhido de favor no Anexo do Copacabana.
O Copacabana Palace, fundado por Octavio Guingle (filho de Eduardo, o fundador da riqueza do clã), não era a atividade mais lucrativa da família, mas um dos tentáculos do “polvo” (expressão usada na época para designar os negócios da família), sem dúvida, a mais visível e charmosa. Durante muito tempo, desde a sua fundação em 1923, o Copacabana ocupou o lugar de maior hotel de luxo do Rio de Janeiro.  Entrou em crise após a morte do seu fundador, em 1968, e terminou vendido a um empresário norte-americano, em 1989.

Tem boas histórias esse livro de Clóvis Bulcão. Negócios, criatividade, esperteza, muita gastança e luxo, mas também financiamento de atividades esportivas, culturais e educacionais. Como alguns membros da família eram católicos, houve auxílio para a fundação de uma universidade católica (a PUC do Rio de Janeiro) e também de uma editora católica de larga influência nacional (a Editora Agir). Histórias para animar uma boa leitura, agradável (graças à habilidade do autor) e muito elucidativa a respeito dos caminhos do dinheiro e dos espaços sofisticados desse nosso país.

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