“Um país se faz com homens e
livros”, disse Monteiro Lobato. Dessa maneira, de vez em quando, é necessário
apontar quais homens e quais livros são esse que fazem a diferença na construção de um
país. O jornalista Luiz Antônio Araujo realizou essa tarefa, anos atrás, no
caderno Cultura de Zero Hora. Durante
o ano de 2012, todos os meses, Luiz Antônio publicou entrevistas com alguns escritores que fizeram a cabeça desse pequeno país chamado Rio Grande do Sul. Escolheu 12
livros e entrevistou os seus autores.
Em ordem cronológica, eis os
livros selecionados: Manual das danças gaúchas
(1956), de Paixão Côrtes e Barbosa Lessa; Júlio
de Castilhos e sua época (1967), de Sergio da Costa Franco; A política rio-grandense no II Império
(1868-1882) (1974), de Helga Piccolo; O
regionalismo gaúcho e as origens da Revolução de 30 (1975), de Joseph Love;
Modelo político dos farrapos (1978),
de Moacyr Flores; Raízes sócio-econômicas
da Guerra dos Farrapos (1979), de Spencer Leitman; Poder Legislativo e autoritarismo no Rio Grande do Sul (1891-1937)
(1979), de Helgio Trindade; A literatura
no Rio Grande do sul (1980), de Regina Zilberman; Missões: uma utopia política (1982), de Arno Kern; Capitalismo e escravidão no Brasil meridional
(1962), de Fernando Henrique Cardoso; A
parte e o todo: a diversidade cultural no Brasil nação (1992), de Ruben
Oliver; e Erico Verissimo, o escritor e
seu tempo (2001), de Flávio Loureiro Chaves.
Em 2015, as entrevistas com os
autores foram reunidas em livro – 12
livros que abalaram o Rio Grande – publicado pela Editora da Universidade
de Santa Cruz (UNISC). Um livro instigante. Os autores falam de suas origens
familiares, trajetórias de vida, das condições em que escreveram e publicaram suas
obras, e ficamos sabendo uma pouco da história de cada uma delas.
Fernando Henrique, ao abordar a
escravidão nas charqueadas pelotenses, em Capitalismo
e escravidão no Brasil meridional, possibilitou um novo entendimento da
realidade sócia-econômica da antiga Província do Rio Grande. Foi obra obrigatória
nos cursos de História e, hoje – talvez em função das novas abordagens sobre
escravidão, talvez devido ao seu engajamento político –, se encontra esquecida no
mundo acadêmico. Helga Picollo produziu a primeira tese de doutorado sobre
história sul-rio-grandense e seu trabalho foi lido, estudado e discutido pela
maioria dos seus alunos (inclusive eu, que tive o privilégio de assistir suas aulas). Seu estudo sobre política sul-rio-grandense tornou-se uma obra de referência nos
estudos sobre o período imperial – um período histórico que continua atraindo
atenções, pois nele se encontra um episódio central na nossa formação social e
também no nosso imaginário: a Revolução Farroupilha.
Nas entrevistas, ficamos sabendo
que FHC achou as cidades de Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande muito agradáveis,
quando veio ao RS, na década de 50, realizar suas pesquisas. Pelo seu depoimento, até parece que era um estudante em férias. Sabemos também que a professora
Helga estudou no Colégio Júlio de Castilhos, nos anos 40, e seus professores de História não tinham
formação acadêmica nessa área. Um dado importante quando lembramos que Helga
Piccolo teve papel importante na formação de gerações de professores, assim
como na consolidação da historiografia sul-rio-grandense como atividade
acadêmica.
Um país se faz com homens, mulheres e livros. Esses homens e mulheres têm histórias, trajetórias pessoais e, para leitores que prezam os autores que escrevem os livros que os empolgam, muitas vezes é bom saber como eles descobriram seus objetos de estudos, que tiveram pais que facilitaram sua formação e, muitas vezes, os aproximaram ou indicaram os temas que, mais tarde, se dedicaram como intelectuais.
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