segunda-feira, 5 de junho de 2017

A Coluna de Trajano

A Coluna de Trajano se encontra na Via dei Fori Imperiali, em Roma. Sobreviveu ao tempo. Quase dois mil anos. Foi mandada construir pelo imperador Trajano, que governou Roma entre 98 e 117 d.C. e conquistou a Dácia (atual Romênia). A coluna foi construída para comemorar esse feito militar.


Além da Dácia, as legiões de Trajano também conquistaram a Arábia Petreia – cuja capital era Petra, importante centro de caravanas para o Oriente – e isso rendeu dinheiro suficiente para realizar “um grandioso programa de edificação, embelezando Roma com esplêndidos palácios e monumentos, cujas ruínas ainda hoje podem ser admiradas”.
São essas ruínas que admirei no último mês de março, encostado num gradil, olhando o que os arqueólogos conseguiram desencavar das antigas construções de Trajano. O imperador mandou construir um novo fórum e ainda se pode ver os vestígios desse "grandioso projeto de edificações", em especial as lojas do antigo mercado e a enorme coluna.
Como os romanos da época olhavam a coluna e liam o extenso relevo contando as realizações do imperador?, pensei. Ficavam dando voltas em torno da coluna, para acompanhar a narrativa? Conseguiam visualizá-la com clareza? Eu olho e não consigo ver os detalhes. Naquele tempo a coluna era colorida e isso ajudava a leitura. Eu foco o zoom da máquina fotográfica e posso, então, visualizar melhor os legionários. Mas os contemporâneos do imperador, como eles faziam?



Paolo Liverani, professor da Universidade de Florença, explica que os antigos romanos não ficavam dando voltas em torno das colunas. Que eles estavam habituados a elas, conheciam seus temas, os códigos como eram abordados, e, ao olhá-las, tinham uma ideia geral do que se tratava. Não precisavam ler quadro por quadro do extenso relevo esculpido. Diante de uma coluna como a de Trajano, era claro aos contemporâneos que ela abordava a eficácia militar das legiões romanas, a derrota dos bárbaros e a exaltação das competências de Trajano e de Roma. Um monumento à poderosa civilização greco-romana, a qual o restante do mundo se submetia, e ponto final.
Mas eu sou um reles latino-americano, vindo das lonjuras do Extremo Ocidente e tenho dificuldade de compreender. Apenas isso: dificuldade. Por mais que tenha lido a respeito dessa civilização - durante anos fui professor de História Antiga, na escola fundamental e na universidade - é como se tudo fosse novidade. A Coluna de Trajano me indica isso. Revivo a emoção juvenil das primeiras leituras sobre a Roma Antiga assim como a avassaladora dificuldade de ter um entendimento claro dessa civilização. Nem por isso, no entanto, é menor a emoção. Desconfio que sou um bárbaro da Dácia, embasbacado com a grandeza de Roma e seus imperadores.

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