Assisti no noticiário da TV que a
jovem prefeita de Roma, Virginia Raggi, estabeleceu um regulamento a respeito
do uso das fontes históricas da cidade com pesadas multas aos infratores. Segundo
as notícias que busquei no Google, está proibido o acampamento ao redor das
fontes, assim como o consumo de bebidas, alimentos, banhos, lavagem de roupas,
e também a utilização das fontes como lixeira ou local para escalar. A medida vem
acompanhada da intenção de restringir o acesso de imigrantes e estrangeiros à
capital da Itália e, pelo jeito, não visa apenas disciplinar os inquietos
turistas. “Impossível pensar em mais estruturas de acolhimento”, disse a
prefeita, indicando a sua preocupação com os imigrantes africanos que ocupam as
ruas da capital da Itália.
Quando visitei as famosas fontes
históricas de Roma – Fontana de Trevi, della Barcaccia, dei Quattro Fiumi
(Quatro Rios) –, era inverno e não havia ninguém nadando ou dando banho no
cachorrinho. Nem vi ninguém acampado nas imediações. Na Fontana de Trevi, o número
de visitantes era enorme – visivelmente turistas – e nem pensei em cumprir o ritual
de chegar na borda e jogar uma moedinha. Meus colegas que fizeram isso precisaram de muita paciência para chegar até a beira
da fonte. Eu fiquei de longe, fotografando.
Numa outra ocasião, batendo
pernas pelo bairro Salustiano – procurando a Igreja de Santa Maria della Vittoria,
local da escultura de Bernini, “Êxtase de Santa Teresa” –, me deparei com a Fontana
dei Mosè e penso ter visto o modo como os nativos utilizam suas fontes. Era início
da noite e um bando de adolescentes estava sentado nas bordas da “piscina” da fonte,
rindo, brincando, e alguns dando voltas em torno das esculturas dos felinos, para
beber a água que sai de suas bocas. Águas cristalina, limpíssima, imaginei.
Fiquei de longe observando e aqui
abaixo reproduzo foto que catei no Google, onde se vê a majestosa fonte e suas leoas.
Um frio danado (era final de inverno) e aqueles jovens se comportavam como se
estivessem numa noite de verão. Adolescentes parecem ser iguais em todos os
recantos do mundo, pensei.
As medidas da Prefeitura bem indicam a preocupação de preservar o patrimônio de Roma - uma intenção louvável, quando se sabe que aumenta o número de depredações causadas por turistas -, mas parece que o novo regulamento está embutido num projeto mais amplo de organização do espaço público. Não apenas disciplinar o seu uso, mas restringir também a "qualidade" dos usuários. Um problema e tanto quando lembramos - e muitos italianos lembram disso - que a Itália resolveu os seus problemas sociais, no final do século XIX e ao longo do XX, exportando seus pobres para outros países. Na maioria dos casos, esses emigrantes italianos foram acolhidos - como ocorreu nos Estados Unidos, Brasil e Argentina - e puderam dar origem à proles numerosas.
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