Histórias de viagem tem me
fascinado. Histórias de peregrinos também.
Outro dia, navegando na Internet,
li o relato de uma viajante que achou admirável o guia turístico falar horas à
fio pelas estradas da Escócia. Não entendi, porém, se a admiração era algo
elogioso ou não. Afinal, um guia de viagem falando sem parar, comentando a paisagem, os
costumes locais, fazendo piadas, é insuportável. Já vivi isso e não gostei.
Felizmente era depois do almoço e dormi. Nem ouvi metade da chatíssima
conversa, explanação e anedotário que durou entre Cáceres e Sevilha, no sul da
Espanha.
Estávamos numa caminhonete de
três bancos, não passávamos de oito turistas e durante o almoço combináramos
que não deixaríamos o homem falar. Mas, na hora em que a viagem recomeçou, as
duas argentinas que estavam no primeiro banco junto ao guia (que também era o
motorista) não mantiveram o trato e deram trela ao homem. Foi uma desgraça.
Minha mulher chegou zonza em Sevilha e, por intervenção dela junto à agência de
viagem, dois dias depois seguimos nosso percurso pela Andaluzia com um guia mais
educado, comedido nas informações e comentários.
Quanto aos peregrinos, admirei
(positivamente) a criatividade de Alexandre Pires, que decidiu refazer os caminhos
de São Francisco de Assis, entre as cidades de Dovadola e Assis, de skate, dois anos atrás. Um
modo original de peregrinação. Claro que ele não fez todo o caminho de skate,
mas, quando dava, lá estava ele em cima do seu “aparelho esportivo” deslizando
pelas estradas italianas. Um percurso de quase 300 quilômetros, como ele
registra no livro 18.4,
o caminho: nos passos de São Francisco de Assis (Porto
Alegre, BesouroBox, 2015), junto com excelentes fotos. Uma viagem com objetivos
de reflexão espiritual e também de captação de recursos financeiros para fins caritativos
– no caso, para a Casa de Acolhimento FASC, em Porto Alegre.
Alexandre Pires conta que viveu
uma crise profunda a partir dos 35 anos, decorrente de excesso de trabalho e
descuido com a vida conjugal, e que um livro sobre São Francisco o ajudou a encontrar rumos mais humanitário para sua vida. Decidiu, então, que no dia do seu aniversário de 40 anos (o
18.04 do título do livro) ele o comemoraria nas trilhas de São Francisco. Com a
experiência de empresário que era, contatou jornalistas e
fotógrafos, utilizou de marketing nas redes sociais e criou um projeto
compartilhado com milhares de pessoas. Sua peregrinação não era para ser solitária e contou com fotos e filmagens de profissionais da área. Na primavera europeia de
2015 ele concretizou o seu projeto, dividindo-o com seus apoiadores. Segundo ele, o resultado foi a conquista
de “certo equilíbrio”, além de ganhos financeiros para a Casa de Acolhimento
FASC e palestras sobre o fomento turístico na região central da Itália.
Uma peregrinação original, essa de Alexandre Pires – que, segundo ele, provocou uma “transformação única” em sua vida. Não sei se a maioria dos peregrinos conseguem isso.
Uma peregrinação original, essa de Alexandre Pires – que, segundo ele, provocou uma “transformação única” em sua vida. Não sei se a maioria dos peregrinos conseguem isso.
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