No início dos anos 70, acampei
diversas vezes na Praia do Tigre – uma pequena praia no atual Parque Estadual
de Itapuã, na beira da Lagoa dos Patos. Naquela época, o parque não existia.
Era um projeto. Na Praia Grande, apenas uma casa. Um bar. E o dono prevendo
grandes oportunidades. Era o lugar onde comprávamos cachaça.
Depois da Praia Grande, entrávamos
mato a dentro e caminhávamos um tempão até chegarmos à Praia do Tigre. Um lugar
só acessível a mochileiros. Ou, pelo menos, era assim quando fui lá pela última
vez (no verão de 1976). Deve ter mudado muito de lá para cá.
No alto dos morros de Itapuã,
havia acampamentos de guarani e os índios não eram de muita conversa. Um dia
nos perdemos no mato, pedimos auxílio a eles e o preço foi muito alto: todas as
nossas facas e mais alguma coisa. Achamos caro demais e fomos buscar ajuda nos
pescadores da Praia do Sítio – que prontamente nos levaram até o nosso
acampamento. Não lembro o que cobraram em troca. Lembro que sentaram conosco,
em torno do fogo, e beberam, conversaram e depois foram embora.
Como se vê, lugar de muita
aventura para a garotada urbana que éramos. Às vezes os bugios faziam um barulhão
danado no mato, saíamos para encontrá-los e eles fugiam. Animais ariscos, nos
contaram. Os índios costumavam caçá-los. Os bugios sentiam de longe o cheiro
dos humanos (índios e outros) e escapuliam.
No último final de semana, matei a
vontade de ver os bugios em estado selvagem (ou próximo disso), no Parque
Witeck, no município de Novo Cabrais (perto de Cachoeira do Sul). O parque é
conhecido pela sua riqueza vegetal e, realmente, é magnífico. Mas os bugios roubaram
a cena. Me conquistaram. Faziam uma barulheira tão grande que cheguei a pensar
que fossem ruído de máquinas trabalhando. Não eram. Os bugios roncavam
intensamente em cima das árvores e pude fotografá-los. Uma realização.
Eram animais habituados aos
humanos. O cheiro de gente não os assustava, pois, diferente dos guarani que
habitavam os morros de Itapuã, os humanos do Parque Witeck não os caçam para
comer. Eles são parte da belíssima paisagem, reconstruída e ajardinada pelos
proprietários. Os bugios podem roncar à vontade – para demarcar território, me
explicaram – e não se importam que um fotógrafo amador prepare o zum de sua máquina
para captá-los.
Levei mais de quarenta anos para
fazer a foto de um bugio.
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