quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Os Três Mártires e o Santuário do Caaró

 

Comentei com um amigo a respeito da Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, e falei do obelisco colocado na frente, um marco para orientar os peregrinos. Esse tipo de visitante continua vindo a Cidade Eterna e aos seus locais de devoção, mas o que vi ao redor do obelisco foram apenas jovens sentados ao redor, rindo, conversando e fumando. Alguns deles bebendo, se não me falha a memória. Rapazes e moças que não lembravam, de forma alguma, penitentes vindos de longe.

Meu amigo, talvez cansado de me ouvir a respeito das minhas andanças europeias, começou a citar os locais de peregrinação existente aqui na região, no interior do Rio Grande do Sul, e percebi que a maioria eu não conheço.

– Estive no Santuário do Caaró – falei – mas não era dia festivo.

O santuário fica no município de Caibaté, a 40 km de São Miguel, e estive lá com um grupo de professores e alunos, a maioria estudiosos de temas missioneiros, há alguns anos atrás. No Caaró foram mortos, em 1628, os Três Mártires Missioneiros, os jesuítas espanhóis Roque Gonzales, Afonso Rodrigues e João de Castilhos, pioneiros na evangelização no nosso estado. O processo de canonização iniciou poucos anos depois, mas, estranhamente, emperrou no Vaticano durante mais de 300 anos e só se concretizou no século XX, após os religiosos da região platina (inclusive do Rio Grande do Sul) encamparem a causa, a partir da década de 1920.

Os mártires foram beatificados em 1934, por Pio XI, e é por volta dessa época (ou nesse processo pela canonização dos padres espanhóis) que o Caaró passou a ser local de devoção. Cito essa última informação de memória (acho que foi o professor Quevedo quem me disse), pouco tempos atrás consultei a respeito da passagem da relíquia (o coração) de Roque Gonzales por Santa Maria, mas não encontrei nada sobre o Caaró. Quando o coração de Roque Gonzales foi trazido a Santa Maria, em 1940, o bispo da cidade (Dom Antônio Reis) encampara a causa dos Três Mártires. A canonização, no entanto, só viria em 1988, durante o governo do papa João Paulo II.

Reza a história (ou a lenda) que, em 1940, graças a passagem da relíquia de Roque Gonzales por Santa Maria, ocorreu um milagre na região. Um camponês das proximidades veio visitar a relíquia, pediu pela melhora da sua filha desenganada pelos médicos e a menina se salvou. A “cura milagrosa” se espalhou e meses depois o bispo de Santa Maria enviou ao local um emissário (Monsenhor Busatto) para abençoar a pedra angular da futura Capela dos Três Santos. Na sequência, o local passou a chamar-se Três Mártires (atualmente 2º distrito do município de Júlio de Castilhos).

Capela dos Santos Mártires. À esquerda,
a cruz missioneira em homenagem
aos padres espanhóis.

Dois anos atrás, fui até Três Mártires para tirar algumas fotos. Também não era data festiva e estive lá apenas para registrar o local.

Escrevo isso para dizer ao meu amigo que, apesar de certo esnobismo da minha parte, abusando da sua paciência para falar das minhas andanças europeias por museus e basílicas (a de Santa Maria Maggiore e outras), não descuido completamente das marcas religiosas da minha região. Talvez devesse dar mais atenção (acho que foi isso que ele quis me apontar) e vou me corrigir nesse sentido.

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