Comentei com um amigo a respeito da Basílica de Santa
Maria Maggiore, em Roma, e falei do obelisco colocado na frente, um marco para
orientar os peregrinos. Esse tipo de visitante continua vindo a Cidade Eterna e
aos seus locais de devoção, mas o que vi ao redor do obelisco foram apenas
jovens sentados ao redor, rindo, conversando e fumando. Alguns deles bebendo,
se não me falha a memória. Rapazes e moças que não lembravam, de forma alguma,
penitentes vindos de longe.
Meu amigo, talvez cansado de me ouvir a respeito das
minhas andanças europeias, começou a citar os locais de peregrinação existente
aqui na região, no interior do Rio Grande do Sul, e percebi que a maioria eu
não conheço.
– Estive no Santuário do Caaró – falei – mas não era
dia festivo.
O santuário fica no município de Caibaté, a 40 km de São
Miguel, e estive lá com um grupo de professores e alunos, a maioria estudiosos de
temas missioneiros, há alguns anos atrás. No Caaró foram mortos, em 1628, os Três
Mártires Missioneiros, os jesuítas espanhóis Roque Gonzales, Afonso Rodrigues e
João de Castilhos, pioneiros na evangelização no nosso estado. O processo de
canonização iniciou poucos anos depois, mas, estranhamente, emperrou no Vaticano durante mais de 300 anos e só se concretizou no século XX, após os religiosos da região platina (inclusive do Rio Grande do Sul) encamparem a causa, a
partir da década de 1920.
Os mártires foram beatificados em 1934, por Pio XI, e é
por volta dessa época (ou nesse processo pela canonização dos padres espanhóis)
que o Caaró passou a ser local de devoção. Cito essa última informação de
memória (acho que foi o professor Quevedo quem me disse), pouco tempos atrás
consultei a respeito da passagem da relíquia (o coração) de Roque Gonzales por Santa Maria, mas não encontrei nada sobre o Caaró. Quando o coração de
Roque Gonzales foi trazido a Santa Maria, em 1940, o bispo da cidade (Dom
Antônio Reis) encampara a causa dos Três Mártires. A canonização, no entanto,
só viria em 1988, durante o governo do papa João Paulo II.
Reza a história (ou a lenda) que, em 1940, graças a passagem
da relíquia de Roque Gonzales por Santa Maria, ocorreu um milagre na região. Um camponês das proximidades veio visitar a relíquia,
pediu pela melhora da sua filha desenganada pelos médicos e a menina se salvou.
A “cura milagrosa” se espalhou e meses depois o bispo de Santa Maria enviou ao local um
emissário (Monsenhor Busatto) para abençoar a pedra angular da futura Capela dos Três Santos. Na sequência, o local passou a chamar-se Três Mártires (atualmente
2º distrito do município de Júlio de Castilhos).
Capela dos Santos Mártires. À esquerda, a cruz missioneira em homenagem aos padres espanhóis. |
Dois anos atrás, fui até Três Mártires para tirar algumas fotos. Também não era data festiva e estive lá apenas para registrar o local.
Escrevo isso para dizer ao meu amigo que, apesar de certo esnobismo da minha parte, abusando da sua paciência para falar das minhas andanças europeias por museus e basílicas (a de Santa Maria Maggiore e outras), não descuido completamente das marcas religiosas da minha região. Talvez devesse dar mais atenção (acho que foi isso que ele quis me apontar) e vou me corrigir nesse sentido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário