“A castelã de Longeville” é um conto escrito pelo
Marquês de Sade. Reencontrei-o num dos livros da “Coleção 64 páginas” da
L&PM: O corno de si mesmo &
outras histórias. Disse “reencontrei” e o leitor pode pensar que eu já
tenha lido o conto em outros tempos. Não li não, escutei a história. Tinha um
amigo que contava histórias galantes e essa fazia parte do repertório.
História de um casal de nobres na região da Champanha,
entediados com o casamento de mais de dez anos, e que passam a cultivar
amantes. O Senhor de Longeville mantém uma “apetecível e fresca” rapariga de
18 anos e não sabe que sua esposa também tem um consolo sexual: o jovem moleiro
das cercanias. Musculoso como um burro, “bonito como a rosa que dava no seu
jardim”.
A esposa tolera as infidelidades do marido, porém o
marido, quando descobre a traição da esposa, resolve partir para a vingança. O
Senhor de Longeville arma um plano para matar o amante da esposa, mas tudo dá
errado. A castelã corre na frente e quem morre é a fresca amante do marido, jogada
dentro de um saco no fosso que circunda o castelo.
Um conto moral! Com a morte da amante, se
restabelece a harmonia entre marido e mulher.
Meu amigo e eu achávamos muita graça no conto e comentávamos
sobre as várias formas de se estabelecer relações de poder entre casais,
sejam eles institucionalizados ou não. Dizíamos que o primeiro que fosse a
França daria um jeito de procurar o Castelo de Longeville. Talvez conhecendo o castelo,
encontrássemos inspiração para entender os conflitos conjugais. Uma brincadeira
que cultivávamos.
Meu amigo esteve na França mais de uma vez, mas não
visitou a região da Champanha. Ficava em Paris e, uma vez, foi visitar os famosos
castelos do Loire – o Chenonceau, entre eles. Trouxe fotos belíssimas
e avisou:
– Da próxima vez, subo até o território da Champagne.
Mas não houve essa outra viagem. Meu amigo morreu há
poucos anos. Ficaram nossas conversas e nossa imaginação a respeito do mundo
elegante narrado pelo Marquês.
– A vida dos nobres de Longeville era assim –
pontificava meu amigo – era feita de jantares com carne de caça e espumantes
deliciosos. Para a noite, moçoilas frescas e apetecíveis, ou rapazes musculosos
para os apreciadores do gênero.
Na edição da L&PM, há uma nota de rodapé avisando
que “ainda existe” o Castelo de Longeville. Provavelmente eu jamais irei
conhecê-lo.
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