quinta-feira, 6 de setembro de 2012


A castelã de Longeville

“A castelã de Longeville” é um conto escrito pelo Marquês de Sade. Reencontrei-a num dos livros da “Coleção 64 páginas” da L&PM: O corno de si mesmo & outras histórias. Disse “reencontrei” e o leitor pode pensar que eu já tenha lido o conto em outros tempos. Não li não, escutei a história. Tinha um amigo que contava histórias galantes e essa fazia parte do repertório.
História de um casal de nobres na região da Champanha, entediados com o casamento de mais de dez anos, e que passam a cultivar amantes. O Senhor de Longeville mantém uma “apetecível e fresca” rapariga de 18 anos e não sabe que sua esposa também tem um consolo sexual: o jovem moleiro das cercanias. Musculoso como um burro, “bonito como a rosa que dava no seu jardim”.
A esposa tolera as infidelidades do marido, porém o marido, quando descobre a traição da esposa, resolve partir para a vingança. O Senhor de Longeville arma um plano para matar o amante da esposa, mas tudo dá errado. A castelã corre na frente e quem morre é a fresca amante do marido, jogada dentro de um saco no fosso que circunda o castelo.
Um conto moral! Com a morte da amante, se restabelece a harmonia entre marido e mulher.
Meu amigo e eu achávamos muita graça no conto e comentávamos sobre as várias formas de se estabelecer relações de poder entre casais, sejam eles institucionalizados ou não. Dizíamos que o primeiro que fosse a França daria um jeito de procurar o Castelo de Longeville. Talvez conhecendo o castelo, encontrássemos inspiração para entender os conflitos conjugais. Uma brincadeira que cultivávamos.
Meu amigo esteve na França mais de uma vez, mas não visitou a Champanha. Ficava em Paris e, uma vez, foi visitar os famosos castelos da região do Loire – o Chenonceuax, entre eles. Trouxe fotos belíssimas e avisou:
– Da próxima vez, subo até o território da Champagne.
Mas não houve essa outra viagem. Meu amigo morreu há poucos anos. Ficaram nossas conversas e nossa imaginação a respeito do mundo elegante narrado pelo Marquês.
– A vida dos nobres de Longeville era assim – pontificava meu amigo – era feita de jantares com carne de caça e espumantes deliciosos. Para a noite, moçoilas frescas e apetecíveis, ou rapazes musculosos para os apreciadores do gênero.
Na edição da L&PM, há uma nota de rodapé avisando que “ainda existe” o Castelo de Longeville. Provavelmente eu jamais irei conhecê-lo.

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