Uma senhora de 87 anos, professora primária
aposentada, me telefona e pergunta a respeito de quando os professores das
universidades federais voltarão às aulas. Informada de que o movimento de
paralisação continua, ela provoca:
– Vocês pensam que vivem numa redoma de vidro?
Esta senhora se formou na Escola Complementar, na
época do Estado Novo, e se tornou alfabetizadora nos antigos grupos escolares.
Fez carreira no Magistério Estadual e aposentou-se no início dos anos 70. Gradativamente,
com o rebaixamento salarial que o Magistério sofreu, passou seus votos (antes
dados ao PSD, depois à ARENA) para o nascente Partido dos Trabalhadores. Foi
uma eleitora entusiástica do PT, de Olívio Dutra e Lula, até a crise de 2005. A partir daí,
decepcionada, desistiu de votar.
– Já passei da idade – explica. – Agora deixo para
os jovens.
Mas um sonho ela não abandona: o do piso nacional do magistério, que o Tarso Genro criou no Ministério da Educação... e não
conseguiu implementar no Rio Grande do Sul. Isto ela acha que merece. Se bem
que teme não viver até lá.
Esta senhora é uma interlocutora privilegiada que
tenho – uma interlocutora do mundo que existe além dos muros da universidade
federal. Leitora de jornal, espectadora de noticiários de TV, leitora de romances (de Eça de Queirós e Machado de Assis, que não deixa de reler), é uma senhora bem informada.
– Mas o país não está na iminência de ser arrastado
numa crise internacional? – pergunta. – Vocês não acham que estão querendo o
que nenhuma outra categoria consegue? Onde é que vocês estão?
– Na tal redoma de vidro – eu rebato. E tento reproduzir
a argumentação da direção do movimento (pelo menos os argumentos que visam tornar
o magistério superior federal uma carreira atrativa), mas desisto. – O movimento paredista ultrapassou a medida do
razoável – concluo.
A senhora faz um pequeno silêncio do outro lado de
telefone e pergunta se não corro o risco de ser demitido. Respondo que não. O
ponto não foi cortado e nem o salário deixou de ser pago regularmente. Então a
professora aposentada volta ao seu tema principal: o piso salarial do
magistério estadual.
– Pois eu não vivo nessa redoma de vidro onde vocês
estão – ela diz. – Eu e a maioria do povo brasileiro. Acho que vocês poderiam
levar isto em consideração...
Como professora aposentada, decidi que nunca mais votaria em decisões que , se houvesse " perdas e danos" , eu não seria atingida. A greve é uma delas. Greve é luta, é risco, é enfrentamento. Pode ter salário cortado, semestre perdido, carreira prejudicadas. Aposentada, eu não seria atingida por isso. Mas, se estão todos, por tanto tempo, numa redoma de vidro , é greve?
ResponderExcluirPrezada professora, a "redoma de vidro" ao qual a minha interlocutora se referiu é a situação privilegiada dos professores das universidades federais, com salário médio de 6 mil reais (dados do Sindicato), que fazem greve por mais de 100 dias com salários pagos regiamente e sem maiores problemas com o empregador? Que outra categoria consegue este feito, na sociedade brasileira? E seria este feito fruto de sua "capacidade de luta" ou algo assim?
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