Em 1987, participei da ocupação da Praça da Matriz, em Porto Alegre ,
promovida pelo CPERS (Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul).
Pedro Simon era governador, rompera o acordo feito pelo governo anterior (Jair
Soares), que “garantia” ao Magistério um piso salarial de 2,5 salários mínimos,
e os professores se indignaram. Simon não quis comprometer o erário com a
educação e o Magistério respondeu com uma greve gigantesca. Mas fomos escandalosamente
derrotados. Um massacre!
Logo no início da greve, a direção do movimento decidiu
pela ocupação da Praça da Matriz – uma ocupação permanente, com barracas e tudo
mais – e eu estava lá, no dia em que isso aconteceu. Fazíamos manifestações
diárias na frente do Palácio e, no dia da montagem do acampamento, eu não sabia
de nada. Soube ao longo da tarde, quando os colegas começaram a montar o acampamento.
A ocupação alterou a rotina da praça e foi tema de
longas discussões: como realizar um ato político contra o Governo do Estado sem
criar confronto exagerado com a população usuária da praça? Como interagir com
as senhoras, babás e crianças que vinham tomar sol, conversar e brincar na
praça? Penso que houve civilidade de ambos os lados e que a coisa se resolveu
bem. Os usuários logo se tornaram fregueses das professoras que
vendiam doces & salgados, e parece que o convívio foi fraterno.
Mas havia o sino, dependurado numa árvore, que era tocado
o dia inteiro. Um sino de escola – uma variação encorpada da tradicional sineta
– que todos queriam badalar, para expressar a sua indignação com o governador.
Chegava uma comissão de professores de longe (de São Gabriel, por exemplo) e a
primeira coisa que a turma queria era tocar o sino da praça. Logo veio uma
comissão de moradores locais e informou que o sino ecoava nos seus
apartamentos. O sino incomodava os moradores e houve uma negociação com a
direção do acampamento. O uso do badalo passou a ser disciplinado e não era
mais tocado depois do anoitecer até o outro dia de manhã.
Escrevo isto porque, outro dia, me incomodei com os
grevistas que ocupavam a Reitoria da UFSM. Uma estratégia de confronto
desnecessário, do meu ponto de vista – e deselegante também. Lembrei dos
usuários da Praça da Matriz, dos moradores do entorno da praça, e dos mendigos
que, à noite, vinham dormir nos bancos...
Meu amigo Joãozinho (mais tarde diretor do Colégio
Júlio de Castilhos) era da direção do movimento e logo percebeu que
precisávamos administrar o problema dos mendigos. Eles não formaram nenhuma
comissão e meu amigo se adiantou. Tratou de liberar alguns bancos, durante a
noite, para que os mendigos os usassem como sempre faziam. Eles aceitavam
calados o cachorro-quente ou a sopa que servíamos, se enrolavam nos seus trapos
e nos observavam, desconfiados. “O que esses riquinhos fazem aqui?”, deviam
pensar. E nós ali, lutando pela educação ou coisa parecida.
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