sexta-feira, 3 de agosto de 2012


Um moço de bombachas

A escritora Tânia Lopes comentou crônica que publiquei dias atrás, na qual me refiro a uma viagem que fizemos a Bagé, para a Feira do Livro local. Chamei de “Romance policial” a tal crônica. Tânia lembrou que não foram os prédios da cidade que lhe chamaram a atenção, como destaquei, mas, sim, o acolhimento que as pessoas nos proporcionaram. Apresentamos nosso livro de contos – Milongueiro – para o público que estava na praça e o pessoal nos ouviu com atenção.
Além disso, Tânia lembrou uma cena periférica, que nos atiçou a imaginação. Cruzou pela praça uma moça com um short curtíssimo, mostrando tudo e mais um pouco, e ficamos observando. A moça rebolava, exibia os atributos que a natureza lhe dera, e logo atrás seguia um moço de bombachas, feito um manso cachorrinho. Pensei na hora que a cena servia de mote para um conto...
O moço recém chegara a Bagé, tinha passado a vida inteira no campo, entre cavalos, bois e moças recatadas, e de repente aquela exuberância de carnes. Metade da bunda da moça saltava para fora do short e uma cena dessas ele nunca vira. Sem se dar conta do ridículo, lá ia o jovem macho, alfinetado “no recôndito da sua alma”, atrás da sua dama.
O que a mulher faria com ele? Tripudiaria? Cobraria caro pelo programa? Ou ela não era profissional e eu estava sendo preconceituoso? Sei lá. A Tânia lembrou o episódio e resolvo dar um desfecho para a trama.
A moça era uma profissional, sim, mas não tripudiou do rapaz. Deixou que ele fizesse a abordagem e estabeleceu um preço para o programa bem acessível ao seu bolso. Deu muito prazer ao rapaz, coisa que ele não imaginava existir, e o moço agora quer casar. Já prometeu mundos e fundos, e a moça ri e pergunta:
– Tu não sabes quem eu sou?
O rapaz não sabe. Largou a estância onde trabalhava, deixou o campo, largou tudo, e hoje sobrevive na cidade graças a pequenos biscates. Aguarda, ansiosamente, o dia em que a mulher lhe dará “seu coração”.

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