A escritora Nikelen Witter fez uma provocação no Facebook quanto à
função do professor na formação do leitor. Fiquei motivado pela questão e aqui
vai minha resposta.
Professor ajuda, sim. No meu caso, foi fundamental.
Tive um bom incentivo dos pais – da mãe professora e alfabetizadora; do pai
bancário, que gostava de Alexandre Dumas & Balzac – e os professores
completaram o ciclo.
A professora da escola primária falava em Tomé de
Souza e lá ia eu procurar em casa o que havia sobre os governadores gerais no
Brasil. As primeiras leituras de livros de História. Depois, na 1ª série
ginasial, o professor indicou As
aventuras de Tibicuera como leitura obrigatória e foi um deslumbramento.
Leitura inesquecível. Na sequência, não me tornei leitor de Erico Veríssimo.
Isso veio depois. Fui ler José de Alencar, por indicação dos professores, e
Júlio Verne, por sugestão do pai.
Um dia, na 3ª série ginasial, o professor de Língua
Portuguesa apresentou Olhai os lírios do
campo para fazermos análise sintática e
fiquei encantado. Aquele texto enxuto, claro, claríssimo – frases curtas e
diretas – me pegou pelo pé. Estava encharcado de Alencar, Casimiro de Abreu e
Ronald de Carvalho, e de repente aquela “simplicidade” do Erico veio para lavar
a alma. Acho que nunca mais fui o mesmo.
O professor de História dava uma aula sobre a Guerra
do Paraguai, eu comentava o assunto com um tio, coronel do Exército, e
terminava ganhando livros da Biblioteca do Exército. O melhor de todos, Reminiscência da Guerra do Paraguai, de
Dionísio Cerqueira. Uma preciosidade!
E, no meu caso, que era ligado à Igreja Católica,
valeu também a indicação de livros de temática religiosa: Quo vadis, O último cruzado,
Ricardo Coração de Leão – que o pai
lia (às vezes relia) e comentava comigo. E mais Maria da tempestade, de João Mohana, um romance inesquecível. E
também O diário de Anne Frank,
indicado por um irmão marista, professor de Religião.
Penso que um leitor se forma a partir de múltiplas
motivações. E nisso entra a família, mas também a escola, às vezes a Igreja,
mais os meios de comunicação, especialmente o cinema.
Foi um professor de Teoria da História, na faculdade,
que me colocou no rastro de Dostoievski. Ele falava olhando para um ponto
qualquer da sala, muito distante de nós, reles mortais, e de repente se referiu
a Os irmãos Karamazov. Disse que era
um tratado sobre a alma humana e fez um longo silêncio. “Um tratado”, “a alma
humana”, “as verdades da nossa condição”. Nunca mais esqueci.
Quando fui ler este romance, era com o professor da
faculdade que dialogava. E concordei com ele. Estava diante da “mais dura e
torpe humanidade”. O teacher não me
enganara. Pelo contrário.
Adorei ler o resultado da "provocação". Também acho que são influências várias. O importante é os leitores nunca se furtarem à exercê-la sobre os não-leitores.
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