sexta-feira, 3 de agosto de 2012


Professores e leitura

Nikelen Witter fez uma provocação no Facebook quanto à função do professor na formação do leitor. Fiquei motivado pela questão e aqui vai minha resposta.
Professor ajuda, sim. No meu caso, foi fundamental. Tive um bom incentivo dos pais – da mãe professora e alfabetizadora; do pai bancário, que gostava de Alexandre Dumas & Balzac – e os professores completaram o ciclo.
A professora da escola primária falava em Tomé de Souza e lá ia eu procurar em casa o que havia sobre os governadores gerais no Brasil. As primeiras leituras de livros de História. Depois, na 1ª série ginasial, o professor indicou As aventuras de Tibicuera como leitura obrigatória e foi um deslumbramento. Leitura inesquecível. Na seqüência, não me tornei leitor de Erico Veríssimo. Isso veio depois. Fui ler José de Alencar, por indicação dos professores, e Júlio Verne, por sugestão do pai.
Um dia, na 3ª série ginasial, o professor de Língua Portuguesa apresentou Olhai os lírios do campo para fazermos análise sintática e fiquei encantado. Aquele texto enxuto, claro, claríssimo – frases curtas e diretas – me pegou pelo pé. Estava encharcado de Alencar, Casimiro de Abreu e Ronald de Carvalho, e de repente aquela “simplicidade” do Erico veio para lavar a alma. Acho que nunca mais fui o mesmo.
O professor de História dava uma aula sobre a Guerra do Paraguai, eu comentava o assunto com um tio, coronel do Exército, e terminava ganhando livros da Biblioteca do Exército. O melhor de todos, Reminiscência da Guerra do Paraguai, de Dionísio Cerqueira. Uma preciosidade!
E, no meu caso, que era ligado à Igreja Católica, valeu também a indicação de livros de temática religiosa: Quo vadis, O último cruzado, Ricardo Coração de Leão – que o pai lia (às vezes relia) e comentava comigo. E mais Maria da tempestade, de João Mohana, um romance inesquecível. E também O diário de Anne Frank, indicado por um irmão marista, professor de Religião.
Penso que um leitor se forma a partir de múltiplas motivações. E nisso entra a família, mas também a escola, às vezes a Igreja, mais os meios de comunicação, especialmente o cinema.
Foi um professor de Teoria da História, na faculdade, que me colocou no rastro de Dostoievski. Ele falava olhando para um ponto qualquer da sala, muito distante de nós, reles mortais, e de repente se referiu a Os irmãos Karamazov. Disse que era um tratado sobre a alma humana e fez um longo silêncio. “Um tratado”, “a alma humana”, “as verdades da nossa condição”. Nunca mais esqueci.
Quando fui ler este romance, era com o professor da faculdade que dialogava. E concordei com ele. Estava diante da “mais dura e torpe humanidade”. O teacher não me enganara. Pelo contrário. 

Um comentário:

  1. Adorei ler o resultado da "provocação". Também acho que são influências várias. O importante é os leitores nunca se furtarem à exercê-la sobre os não-leitores.

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