Cruzando
a noite de Porto Alegre dentro de um carro de aplicativo, me dou conta de que,
se pretendo escrever um novo livro, mudar de cidade (trocar Santa Maria por
Porto Alegre), ou até voltar a dirigir, a primeira coisa a fazer é acreditar em
mim mesmo. Ouvi isto ainda pouco. “Precisas acreditar que tu podes”, ela disse.
Não
vou dizer quem ela é porque um cronista precisa manter certa discrição. Se sua
narrativa for muito explícita, lá se vai a literariedade e o texto perde a graça.
Uma narrativa que se pretenda literária tem que respeitar certas
características – e algumas delas são a de não entregar tudo e criar certas
lacunas... que o leitor vai preenchendo com a sua própria vida e por aí vai.
Pois
uma mulher me provocou com as frases típicas de um coach, os clichês que eles
utilizam para incentivar o seu público desejoso de lições de vida, e me dei
conta de que ela... pode ter razão. “O começo de tudo é acreditar em si próprio”,
eu repito, lembrando o que ela disse. “Isso é uma bobagem”, ela falou, “mas às
vezes funciona.”
Eu
enumero os desafios que enfrento no momento (entre eles o de mudar de
apartamento) e me dou conta de que Porto Alegre é uma cidade aonde eu cheguei
em 1967, com onze anos de idade, junto com meus pais e dois irmãos. Uma cidade
da qual eu saí, vinte e quatro anos depois, para morar em Santa Maria, e
para a qual estou voltando.
Em
Porto Alegre eu passei a adolescência, fiz o Curso de História e iniciei a carreira
no Magistério Estadual. Também me casei pela primeira vez e tive dois filhos.
Não aguentei o salário de professor do Estado, busquei várias alternativas e
aquela que colou foi um concurso na Universidade Federal de Santa Maria.
Assim,
em 1991 fui lecionar no “Coração do Rio Grande” (um dos apelidos de Santa Maria),
levei a esposa e os dois filhos, e praticamente reconstruí minha vida nesta cidade.
Uma possibilidade que a Universidade me proporcionou.
Me
separei poucos anos depois, me casei novamente com outra mulher, da qual também
terminei me separando. Me aposentei depois de 38 anos de magistério e agora
volto. “Será que acredito em mim o suficiente para me reconstruir na capital do
Estado?”
Cruzando
a cidade dentro de um carro de aplicativo, sinto que “acreditar em mim é
o primeiro passo”. Vou apostar nisso. Estou me exercitando nesse sentido:
acreditar, ter fé, essas coisas. Sou um homem retornando a alguma coisa muito
antiga e me sentindo novamente inteiro: raiz, tronco, folhas e frutos. Inteiro,
apesar de velho (beirando os 70 anos).
Uma
mulher me incentiva a confiar em mim mesmo, diz palavras encantadoras aos meus
ouvidos e eu sigo em frente. É como se retomasse a alguma coisa muito antiga...
Sim,
acreditarei em mim. Alguma coisa é possível.
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