Terminei de ler O Fantasma da Ópera, de
Gaston Leroux, ambientado na Ópera Garnier, e lembrei, claro, da minha passagem
por Paris, em 2019.[1] Estava
numa excursão cultural com professores e alunos de uma universidade franciscana
da minha cidade e, numa manhã, durante o café, uma professora sugeriu que
fossemos visitar a Ópera Garnier (nome dado em homenagem ao arquiteto que a
planejou), também conhecida como Ópera de Paris ou Academia Nacional de Música
(nome que está escrito na fachada). Naquele dia, a nossa programação fora
cancelado e alguns de nós toparam a ideia.
Pegamos o metrô e desembarcamos numa estação próxima
ao teatro e a primeira visão do prédio foi de uma de suas laterais.
Impressionante! Alguém foi se informar a respeito da visitação e soubemos que
não estava aberto naquele dia ou naquele horário, não recordo mais. Contornamos
o prédio, vimos a sua fachada e o deslumbramento foi total, sensação que
compartilhamos com outros turistas que passavam pelo local. Uma festa! E então
pude apreciar, pela primeira vez, a famosa escultura de Jean-Baptiste Carpeaux,
“A dança”, representando um grupo de bailarinas nuas, bailando alegremente em
torno de um rapaz igualmente nu. Uma peça que escandalizou a cidade, quando ali
foi colocada, em 1869. Só dias depois soube que estava vendo uma cópia, pois
visitei o Museu d’Orsay e encontrei a peça original, que fora retirada da
fachada do prédio (na década de 1960) para protegê-la da poluição. Desde 1986, ela
se encontra no d’Orsay.
"A dança", de Jean-Baptiste Carpeaux. Cópia na fachada da Ópera Garnier. |
Pois contornamos a famosa Ópera e fomos vê-la
novamente do terraço das Galerias Lafayette, que ficam no entorno. (Pulo a parte
relativa a essas galerias – point da moda parisiense, me explicaram, lugar de
roupas caríssimas e de milionárias chinesas fazendo compras com malas de
rodinhas –, pois é um capítulo a parte. Assunto para uma outra crônica.) No alto
do terraço pude contemplar o teatro e conversei a respeito do Fantasma da Ópera,
tendo como referência o filme de 2004, dirigido por Joel Schumacher, e também a
peça (que assisti num teatro de São Paulo), ambos baseados num musical da Broadway,
com canções belíssimas.
Mas naquele momento, no terraço das Galerias
Lafayette, numa manhã cinzenta e fria de outono (fria como um dia de inverno,
ao menos para nós, brasileiros), olhando a paisagem parisiense do alto,
confesso que não conseguia juntar os pontos. Vivia o deslumbramento típico de
turista que chega pela primeira vez a “Cidade Luz” (nome da cidade desde os
tempos do Iluminismo, conforme os livros de História) e a lembrança que eu
tenho é a de que eu era uma bobice só. Uma bobice boa de viver. Tinha um copo de café numa das mãos,
bebia, tirava fotos, e lembrava vagamente do Fantasma, assim como de tantas
outras histórias que aprendemos a respeito de Paris... Só agora (quase cinco
anos depois) consigo fechar algumas dessas histórias.
Ópera Garnier (fundos) vista do terraço das Galerias Lafayette. |
Sim, o Fantasma morava no interior da Ópera
(segundo Gaston Leroux, o criador do personagem). Ele era um sujeito maligno, um
homem de carne e osso, marcado por uma feiura atroz e por isso rejeitado até
pelos pais. Nascera em Rouan e sua trajetória o levara a andar pela Europa,
pelo Oriente Médio, desenvolvendo seus talentos como cantor e construtor (neste
último caso, na Pérsia e na Turquia). Por fim voltou para a França, tornou-se
empreiteiro e “apresentou uma proposta para o trabalho de fundação na Ópera”
(p. 319). Construiu “um lar desconhecido do restante da terra” (incluindo um
enorme lago) no subsolo do teatro, e ali se isolou dos “olhares dos homens”. Mas
apaixonou-se por uma cantora lírica (Catherine Daaé) e é em torno dessa paixão que
gira o romance. Ele a disputa com um jovem visconde e a esconde na sua morada
subterrânea. O visconde vai atrás (com auxílio de um misterioso persa, antigo
conhecido do Fantasma) e, por fim, a moça é libertada para fugir com o seu
verdadeiro amor.
Não sei como li o romance até o final. Muito chato
para o meu gosto. Mas valeu para fechar a história vivida no terraço das
Galerias, quando me extasiei com a grandiosidade da Ópera Garnier e
tentei lembrar as lendas criadas em torno da sua beleza e encantamento. Talvez um
dia eu consiga visitar o seu interior...
Ópera Garnier (fachada principal). |
[1] LEROUX, Gaston. O Fantasma da Ópera. Trad.: Andréia Alves. Janaína, SP: Principis, 2020. 320 p. O romance foi publicado em capítulos, pela primeira vez, entre 1909 e 1910. Pela indicação do personagem-narrador (um jornalista que investiga a veracidade a respeito do fantasma) a história se passa por volta de 1880.
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