Conta a Bíblia, no Segundo Livro de Samuel (II
Samuel), que numa certa tarde, depois de sestear, o rei Davi passeava pelo terraço
do palácio e avistou uma linda mulher se banhando (provavelmente no pátio da
sua casa, mas este detalhe não consta no texto bíblico). Ele procurou saber
quem ela era, soube que se chamava Betsabé, esposa de Urias (militar que,
naquele momento, se encontrava em serviço no exército de Davi), e enviou
mensageiros para trazê-la até ele.
Betsabé, uma das mulheres mais gostosas da Bíblia
(segundo a revista Superinteressante), não se fez de rogada e logo
atendeu ao desejo do rei. Na sequência, Davi determinou que Urias combatesse na
primeira linha, o sujeito morre e o rei faz de Betsabé uma das suas esposas.
Como se trata de uma história bíblica, claro que o
rei se arrepende depois.
Lembrei do episódio porque fui rever minhas fotos da
visita ao Museu do Louvre e encontrei a de um quadro a respeito dessa
personagem: Betsabé recebendo a carta de Davi ("Bethsabée recevant la lettre de David"), de Willen Drost (1633-1659),
artista flamengo (nascido em Amsterdã) e falecido em Veneza, aos 26 anos.
Betsabé recebendo a carta de Davi (1654). (Museu do Louvre) |
Procurei informações a respeito da figura bíblica (no
Segundo Livro de Samuel, Betsabé só é referida no capítulo 11 e muito
suscintamente, como mulher de grande beleza) e não encontrei nenhuma passagem
que falasse de alguma carta que o rei tivesse enviado a ela. Na certa, então,
mais uma lenda (dessas tantas que cercam as histórias bíblicas) ou uma criação
do artista, sei lá. Seja como for, o quadro me agradou e provocou o registro.
Betsabé é retratada como uma jovem inocente, desolada, pouco ou nada consciente dos seus
atributos físicos que viraram a cabeça do rei, a ponto dele planejar a morte do
seu marido para tê-la só para si.
Uma história que a maioria daqueles que se criam no
ambiente da Igreja Católica aprendem desde cedo (no meu caso, na adolescência).
História nada edificante (como diria minha mãe, professora de Catecismo),
mas típica do Antigo Testamento, isto é, com personagens movidos por paixões
sensuais, desejos ardentes, fúrias e ambições. Assunto que tomou meu tempo de ginasiano e colegial (frequentador assíduo das missas dominicais, leitor da
Bíblia, de livros de História e de Arte) e que foi atualizado naquela visita
cheia de surpresas (em 2019), que volta e meia eu retomo.
O Museu do Louvre é desses tesouros inesgotáveis e o que ele
guarda em seus "labirintos" (como é fácil se perder no Louvre!) é de assunto para uma vida inteira. Uma riqueza enorme, distração garantida. Eu revejo as
fotos, relembro o passeio, e mergulho nesse mundo infinito da aventura humana
retratada por grandes artistas, como a paixão do rei Davi por Betsabé, e fico
divagando a respeito de como (com quais sentimentos) essa formosa mulher atendeu aos
mensageiros do rei e foi deitar-se com ele...
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