Tibicuera é o nome do personagem indígena de um romance
juvenil de Erico Verissimo, intitulado As
aventuras de Tibicuera e publicado em 1937. É um tupinambá que nasceu pouco
antes da chegada dos portugueses na América e que atravessou quase quinhentos
anos de história brasileira devido às mágicas de um pajé. Através desse recurso
(a imortalidade do personagem), o autor narra os principais acontecimentos do
nosso país até meados do século XX. O índio lutou contra os invasores holandeses,
acompanhou o príncipe D. Pedro no grito do Ipiranga e termina transformado num
civilizado cidadão que vive em Copacabana.
Busquei o
livro na minha estante, ainda pouco, e não encontrei. Não sei se dei para o meu
filho, se perdi ou emprestei para alguém. Poucos anos atrás comprei um exemplar
encadernado na banca de revista – parte de uma coleção das obras completas de
Erico Veríssimo – e fiquei imaginando quantos milhares de leitores teve a
obra... O livro alcançou dezenas de edições, foi publicado em coleção didática
e deve ter encantado – e formado – várias gerações.
No
meu caso, foi indicado pelo professor de Português, num distante 1967, quando
cursava a primeira série ginasial. Havia vários livros na minha casa, mas este
foi o primeiro que marcou. Imagino que minha trajetória de leitor tenha
iniciado por aí, pois até então eu apenas lia história em quadrinhos, um ou
outro livrinho infantil e as coleções que meu pai guardava com carinho – O Mundo da Criança e o Tesouro da Juventude.
Às vezes escuto que a escola não forma
leitores e que a indicação de leituras obrigatórias mais inibe do que auxilia a
garotada. Pode ser... Os professores de Língua Portuguesa têm tarefas colossais
sobre seus ombros. Eles indicam obras consagradas pelos estudiosos da
literatura e a gurizada só tem os olhos e ouvidos para o que a indústria
cultural propagandeia. Não há dúvida que os professores jogam com recursos desiguais
e perdem feio.
No entanto, muitas vezes a coisa
funciona e as determinações escolares abrem portas para mundos fascinantes. Algumas
vezes a indústria cultural endossa as indicações escolares e aí as tarefas dos
professores fica mais fácil.
Escrevo isso e fico imaginando o que
vai acontecer com a obra de Erico Veríssimo depois do sucesso do filme de Jayme
Monjardim, baseado n’Tempo e o vento.
É um filme bonito, comovente – uma narrativa bem feita que atinge direto o
coração do espectador – e que traz surpresas mesmo para aqueles que conhecem o livro
de cabo a rabo. Entre as novidades, a história narrada por uma mulher, a
Bibiana, velha e viúva, desfiando a formação da família Terra-Cambará desde
meados do século XVIII até a Revolução Federalista de 1893. No final do filme,
um Rodrigo menino, o futuro Doutor Rodrigo, abanando para a avó Bibiana e indicando
a possibilidade de um O tempo e o vento, parte
2 – a desmontagem do mito da formação sul-rio-grandense tão bem construído
nessa primeira parte da trilogia.
Seja
o que vier pela frente, gostei do filme e imagino que ampliará o número de
leitores da obra de Veríssimo. Meus amigos me dizem que é uma possibilidade
remota, mas não custa apostar.
Procuro mais uma vez As aventuras de Tibicuera na estante, não encontro e imagino que o
volume tenha caído nas mãos certas, isto é, de um menino que soube ficar encantado
com a narrativa.
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