quarta-feira, 2 de outubro de 2013

As aventuras de Tibicuera

          Tibicuera é o nome do personagem indígena de um romance juvenil de Erico Verissimo, intitulado As aventuras de Tibicuera e publicado em 1937. É um tupinambá que nasceu pouco antes da chegada dos portugueses na América e que atravessou quase quinhentos anos de história brasileira devido às mágicas de um pajé. Através desse recurso (a imortalidade do personagem), o autor narra os principais acontecimentos do nosso país até meados do século XX. O índio lutou contra os invasores holandeses, acompanhou o príncipe D. Pedro no grito do Ipiranga e termina transformado num civilizado cidadão que vive em Copacabana.
         Busquei o livro na minha estante, ainda pouco, e não encontrei. Não sei se dei para o meu filho, se perdi ou emprestei para alguém. Poucos anos atrás comprei um exemplar encadernado na banca de revista – parte de uma coleção das obras completas de Erico Veríssimo – e fiquei imaginando quantos milhares de leitores teve a obra... O livro alcançou dezenas de edições, foi publicado em coleção didática e deve ter encantado – e formado – várias gerações.
         No meu caso, foi indicado pelo professor de Português, num distante 1967, quando cursava a primeira série ginasial. Havia vários livros na minha casa, mas este foi o primeiro que marcou. Imagino que minha trajetória de leitor tenha iniciado por aí, pois até então eu apenas lia história em quadrinhos, um ou outro livrinho infantil e as coleções que meu pai guardava com carinho – O Mundo da Criança e o Tesouro da Juventude.
         Às vezes escuto que a escola não forma leitores e que a indicação de leituras obrigatórias mais inibe do que auxilia a garotada. Pode ser... Os professores de Língua Portuguesa têm tarefas colossais sobre seus ombros. Eles indicam obras consagradas pelos estudiosos da literatura e a gurizada só tem os olhos e ouvidos para o que a indústria cultural propagandeia. Não há dúvida que os professores jogam com recursos desiguais e perdem feio.
         No entanto, muitas vezes a coisa funciona e as determinações escolares abrem portas para mundos fascinantes. Algumas vezes a indústria cultural endossa as indicações escolares e aí as tarefas dos professores fica mais fácil.
       Escrevo isso e fico imaginando o que vai acontecer com a obra de Erico Veríssimo depois do sucesso do filme de Jayme Monjardim, baseado n’Tempo e o vento. É um filme bonito, comovente – uma narrativa bem feita que atinge direto o coração do espectador – e que traz surpresas mesmo para aqueles que conhecem o livro de cabo a rabo. Entre as novidades, a história narrada por uma mulher, a Bibiana, velha e viúva, desfiando a formação da família Terra-Cambará desde meados do século XVIII até a Revolução Federalista de 1893. No final do filme, um Rodrigo menino, o futuro Doutor Rodrigo, abanando para a avó Bibiana e indicando a possibilidade de um O tempo e o vento, parte 2 – a desmontagem do mito da formação sul-rio-grandense tão bem construído nessa primeira parte da trilogia.
Seja o que vier pela frente, gostei do filme e imagino que ampliará o número de leitores da obra de Veríssimo. Meus amigos me dizem que é uma possibilidade remota, mas não custa apostar.
         Procuro mais uma vez As aventuras de Tibicuera na estante, não encontro e imagino que o volume tenha caído nas mãos certas, isto é, de um menino que soube ficar encantado com a narrativa.

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