Sêneca
foi um filósofo romano do século I d.C. e alguns de seus livros são até hoje
publicados. Ele nasceu em família rica, na Espanha, e cedo foi para Roma
estudar filosofia. Tornou-se advogado, senador, e teve a vida ligada à corte
imperial, tornando-se preceptor de Nero – que governou o Império romano entre
os anos de 54 a
68. Quando Nero passou a governar, Sêneca foi seu conselheiro durante alguns
anos. Em 65, foi envolvido numa conspiração, acusado de tentar assassinar o imperador,
e, por isso, constrangido a se suicidar. Cortou os pulsos junto com a esposa e
morreu serenamente, segundo relato do historiador Tácito.
Sêneca era um filósofo estóico. Valorizava a razão –
nenhum poder acima da razão humana – e propunha a renuncia dos bens materiais
ou, pelo menos, uma disposição a não considerar esses bens o centro da vida.
Nem os bens materiais nem os afetos, mas a vida modesta, sóbria, sem os altos e
baixos das paixões. Apesar de não valorizar muito a riqueza, Sêneca foi um homem
rico.
Todo esse preâmbulo, prezado leitor, é para explicar
um pensamento de Sêneca que encontrei num livro sobre a civilização greco-romana
e que volta e meia me faz refletir. O texto (que reproduzo com minhas palavras)
diz o seguinte: reserve alguns dias para experimentar uma vida modesta. Nesses
dias, use roupa grosseira, durma em cama dura e coma apenas pão. Permaneça
nessa situação uns três ou quatro dias (não mais do que isso) e lembre que
milhares de homens e mulheres vivem nesse estado cotidianamente, ao longo de
toda vida.
Sêneca era um romano da classe dominante e devia saber
das condições de pobreza da maioria dos homens livres do Império – isso sem
falar na miserabilidade dos escravos. A desigualdade social do mundo romano era
tremenda e superava a da sociedade latino-americana na qual vivemos.
O que Sêneca pretendia com esses exercícios de
frugalidade não era, de modo algum, uma aproximação com a vida dos pobres e, a
partir daí, uma prática de transformação social. Sêneca não era um revolucionário
– e nem um cristão que valorizasse a pobreza e a humildade. O que ele pretendia
era um exercício prático para estabelecer o primado do que considerava
essencial: a vida modesta, ditada exclusivamente pela razão, sem apego aos bens
matérias, nem aos afetos. A vida na sua essencialidade – restrita aos prazeres
mais modestos de respirar e pensar, comer o pão e beber a água. Coisa que a
maioria de nós jamais conseguiria fazer – a não ser pressionado e sem nenhuma
condição de espernear.
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