segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A origem da base aérea em Santa Maria

Foi na Feira do Livro de Santa Maria, anos atrás. Conheci um senhor numa fila de sessão de autógrafos e ficamos conversando. Ele contou que morava na região onde hoje se encontra a Base Aérea, no Bairro Camobi. Era guri de enxada na mão enquanto acontecia a guerra na Europa e os norte-americanos chegavam a Santa Maria e instalavam uma pista para os aviões que iam espionar o Rio da Prata e adjacências. “Para acompanhar o que os argentinos faziam porque a Argentina, não sei se o senhor sabe, não declarou guerra ao nazismo como fez o doutor Getúlio.”
Ele contou que era menino de dezesseis anos e parava tudo para ouvir os aviões decolarem, saia correndo para vê-los levantar vôo e ficava horas esperando eles voltarem. Não entendia nada de guerra. Peleia para ele se dava em terra firme, com os pés cravados no chão ou então em cima de um cavalo. Um tio era brigadiano em Santa Maria e participara ao cerco da fazenda de Borges de Medeiros, em 1932. Brigadiano de botina nos pés e fuzil nas duas mãos. “Só fui conhecer piloto de avião, de perto, muitos anos depois”, ele disse, “aqueles americanos eu não via direito. Ficava escondido no mato e observava tudo de longe.”
O nome do homem que me fez este relado eu não lembro. Disse que tinha 80 anos e aprendera a ler no quartel. Que graças ao quartel aprendera ofício de telegrafista e deixara a roça. Que considerava isto o maior feito da sua vida: sair da roça e se tornar telegrafista da Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Mas que às vezes tinha vontade de ter sido piloto de avião e voado sobre o Rio da Prata. Depois de velho, sabia tudo sobre aviões e sobre a geografia do Rio Grande do Sul, do Uruguai e da Argentina – “que é a parte mais bonita do mundo”, afirmava.

E ficamos ali, entre os livros da praça, o homem me contando sobre os aviões que os americanos usavam durante a Segunda Guerra Mundial, como se desenvolveu a Força Aérea Brasileira, e eu me sentindo um guri de colégio. Um guri com os cadernos e os livros de baixo do braço, que pára tudo para ouvir os mais velhos contarem todas as coisas que sabem, a guerra, as barbaridades do mundo, “e essas coisas que nem dá pra imaginar aqui no meio da praça, com tanta gente jovem e bonita.”

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