sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A festa de Nossa Senhora dos Navegantes

A festa de Nossa Senhora dos Navegantes é tradicional no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, começou em 1871, ao ser fundada a “Devoção da Santa Virgem Protetora dos Navegantes”. Nesse mesmo ano, foram realizados os primeiros festejos na cidade, com procissão terrestre e fluvial.
A procissão fluvial se manteve até o final da década de 1980. Em 1989, sob o impacto do acidente do Bateau Mouche, no Rio de Janeiro, a Capitania dos Portos de Porto Alegre a suspendeu. Denúncias quanto à segurança das embarcações se acumulavam há alguns anos e nunca mais se suspendeu a proibição. Atualmente, a Irmandade de N. Sa. dos Navegantes, responsável pelo evento, promove apenas a procissão terrestre. Umbandistas e batuqueiros, no entanto, realizam uma procissão paralela sobre as águas.
No Rio Grande do Sul, outras cidades portuárias também mantém a devoção e a festividade – como é o caso de Rio Grande, Pelotas, Uruguaiana e São Borja. Os católicos coordenam as festividades, mas o sincretismo com a religiosidade de matriz africana contribui muito para a popularidade e grandeza da festa. Nos últimos vinte anos, porém, com o fortalecimento do “africanismo”, alguns babalorixás e ialorixás não estimulam mais os seus seguidores a frequentar a festa católica. A maioria dos umbandistas e batuqueiros, no entanto, continua entendendo que N. Sa. dos Navegantes e Iemanjá são a mesma entidade e participa entusiasticamente.
Meu pai era um devoto mariano e não perdia a procissão. Gostava de acompanhar a imagem da santa quando morava em Pelotas e passou a fazer a mesma coisa quando nos mudamos para Porto Alegre. No final dos anos 60, a mãe o acompanhou numa procissão pelo Guaíba, mas a superlotação do barco a deixou assustada. Ela passou a participar apenas da procissão terrestre (entre a Igreja do Rosário e o cais do porto) e o pai seguia adiante, pulando para dentro de um barco ou navio.
O pai adorava a função. Ele era um devoto de Nossa Senhora (e também de Santa Terezinha) e gostava de se envolver em festividades populares, de participar de um ritual litúrgico e também de comer melancia. Apesar da melancia estar presente na festividade por conta da associação com Iemanjá, essa dimensão da religiosidade umbandista não o sensibilizava. Gostava da fruta, isto sim – de preferência se ele pudesse escolher e talhar a melancia –, assim como navegar pelas águas do Guaíba sob a proteção de Nossa Senhora. Homem de ação que era, a sua religiosidade precisava de exteriorização e não se importava com a super-lotação dos barcos, com o empurra-empurra do povo ou com o sacolejo das ondas do rio. Pelo contrário.
Quando frequento as festas religiosas, atualmente, volta e meia lembro do pai. Vejo os homens carregando o andor do santo ou da santa, vejo os homens assando o churrasco que vai ser servido depois da missa e sinto o quanto eles são religiosos e felizes nos seus gestos simples e honrados. Penso que meu pai era desse jeito, que sua fé precisava desses gestos – como pular para dentro de um barco super-lotado, sem muita segurança e ir seguindo a santa com os olhos e o corpo inteiro.

Uma lástima que eu nunca tenha acompanhado meu pai na procissão de Nossa Senhora dos Navegantes.

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