A festa de Nossa
Senhora dos Navegantes é tradicional no Rio Grande do Sul. Em
Porto Alegre , começou em 1871, ao ser fundada a “Devoção da
Santa Virgem Protetora dos Navegantes”. Nesse mesmo ano, foram realizados os
primeiros festejos na cidade, com procissão terrestre e fluvial.
A procissão
fluvial se manteve até o final da década de 1980. Em 1989, sob o impacto do
acidente do Bateau Mouche, no Rio de Janeiro, a Capitania dos
Portos de Porto Alegre a suspendeu. Denúncias quanto à segurança das
embarcações se acumulavam há alguns anos e nunca mais se suspendeu a proibição.
Atualmente, a Irmandade de N. Sa. dos Navegantes, responsável pelo evento,
promove apenas a procissão terrestre. Umbandistas e batuqueiros, no entanto, realizam
uma procissão paralela sobre as águas.
No Rio Grande do
Sul, outras cidades portuárias também mantém a devoção e a festividade – como é
o caso de Rio Grande, Pelotas, Uruguaiana e São Borja. Os católicos coordenam
as festividades, mas o sincretismo com a religiosidade de matriz africana
contribui muito para a popularidade e grandeza da festa. Nos últimos vinte
anos, porém, com o fortalecimento do “africanismo”, alguns babalorixás e
ialorixás não estimulam mais os seus seguidores a frequentar a festa católica.
A maioria dos umbandistas e batuqueiros, no entanto, continua entendendo que N.
Sa. dos Navegantes e Iemanjá são a mesma entidade e participa entusiasticamente.
Meu pai era um
devoto mariano e não perdia a procissão. Gostava de acompanhar a imagem da
santa quando morava em Pelotas e passou a fazer a mesma coisa quando nos
mudamos para Porto Alegre. No final dos anos 60, a mãe o acompanhou numa
procissão pelo Guaíba, mas a superlotação do barco a deixou assustada. Ela
passou a participar apenas da procissão terrestre (entre a Igreja do Rosário e
o cais do porto) e o pai seguia adiante, pulando para dentro de um barco ou
navio.
O pai adorava a
função. Ele era um devoto de Nossa Senhora (e também de Santa Terezinha) e
gostava de se envolver em festividades populares, de participar de um ritual
litúrgico e também de comer melancia. Apesar da melancia estar presente na
festividade por conta da associação com Iemanjá, essa dimensão da religiosidade
umbandista não o sensibilizava. Gostava da fruta, isto sim – de preferência se
ele pudesse escolher e talhar a melancia –, assim como navegar pelas águas do
Guaíba sob a proteção de Nossa Senhora. Homem de ação que era, a sua
religiosidade precisava de exteriorização e não se importava com a
super-lotação dos barcos, com o empurra-empurra do povo ou com o sacolejo das
ondas do rio. Pelo contrário.
Quando frequento
as festas religiosas, atualmente, volta e meia lembro do pai. Vejo os homens
carregando o andor do santo ou da santa, vejo os homens assando o churrasco que
vai ser servido depois da missa e sinto o quanto eles são religiosos e felizes
nos seus gestos simples e honrados. Penso que meu pai era desse jeito, que sua
fé precisava desses gestos – como pular para dentro de um barco super-lotado,
sem muita segurança e ir seguindo a santa com os olhos e o corpo inteiro.
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