domingo, 4 de março de 2012

A invenção de Hugo Cabret

Fui assistir ao filme de Scorsese, A invenção de Hugo Cabret, e fiquei pensando se a tecnologia do 3D acrescenta alguma coisa ao espetáculo cinematográfico. Talvez para o público juvenil, para quem o filme é dirigido, sim. Um espectador velho como eu, é pego de saída pelas referências ao universo de Charles Dickens e basta. Isto garante um bom entretenimento e pronto. A narrativa é vigorosa e não há como não se desprender do encanto de história de fantasia que Scorsese dá ao filme.
O menino, personagem central da narrativa (o Hugo do título), está escondido numa estação de trens parisiense, da década de 1930, e luta para desvendar um enigma paterno e fugir do Inspetor Policial que deseja levar todos os meninos abandonados para uma casa de órfãos. O menino desvenda o enigma, escapa do policial e consegue comover um comerciante casmurro a adotá-lo. Para o leitor de Dickens, a vitória dos bons sentimentos, típica dos seus romances. No caso do comerciante casmurro, que adota o menino, a vitória da “Generosidade Total”, tal qual em Uma história de Natal. Bem trabalhada esta estrutura narrativa (com um conjunto de coincidências que convencem o espectador), não há como não terminar o filme com os olhos marejados.
Dickens é eterno, dirá o leitor sintonizado com a literatura, que tem presente o bicentenário de nascimentos do autor, comemorado neste ano. Não posso dizer que sou um expert na sua obra. Mas considero Um conto de duas cidades um dos meus livros prediletos e me acho, a partir daí, com condições de dar uns pitacos. Depois, Dickens foi de tal maneira popularizado que todos nós conhecemos as suas histórias, o seu mundo, o modo como ele propunha a solução para os dramas sociais inclusive.
Popularizações de diversos níveis, desde as histórias em quadrinhos de Walt Disney e de Will Eisnar (este último, revendo criticamente Oliver Twist), até os filmes excelentes de David Lean (Grandes esperanças, 1946) e Roman Polanski (Oliver Twist, 2005). Isto sem falar de Quem quer ser milionário?, filme oscarizado em 2008.
Dito isto, voltemos à questão inicial: a tecnologia do 3D acrescenta alguma coisa? Sinceramente acho que não. Scorsese usa com sensibilidade os recursos, produz alguns sustos e encantamentos com enquadramentos criativos (com superposições), mas arrisco dizer que, se fizesse um filme tradicional, daria no mesmo. No meu caso, eu gostaria igual. O manejo da estrutura narrativa onde vencem os bons sentimentos, isto me parece que define e dá vigor ao filme.

2 comentários:

  1. Oi Vitor eu que só enxergo de um dos olhos e por tanto Nao usufruo dos 3D, achei o fime lindo e me emocionei muito com todas as referencias ao cinema, todas as metáforas e com a pergunta que ficou martelando minha cabeça:qual o meu propósito ? E é sempre fundamental se questionar e poder se emocionar, e isso Scorcese faz bem! Nadia Lopes

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  2. Salve Vítor! Eu assisti esse filme sem o recurso 3D. Me surpreendeu positivamente e fui arrastado pela narrativa assim como tu foste. Acredito que os filmes de animação conseguem melhores resultados em 3D.
    Abraço

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