segunda-feira, 26 de março de 2012

Megalópole alucinante

Fui a São Paulo dias atrás e encontrei meu irmão caçula num shopping do Itaim Bibi. Marcamos encontro nesse local porque a empresa onde ele trabalha é nesse bairro e tínhamos pouco tempo. Ele virou paulistano de segunda a sexta, mas continua morando no Rio Grande do Sul. “Vivo na ponte aérea”, explicou.
Me perguntei se ele continua o guri com o qual eu jogava bola no pátio de casa, na Pelotas dos anos 60, e conclui que sim, é o mesmo sujeito. Não falamos sobre isso, mas, ao escolher um restaurante especializado em camarão, acho que ele também lembrou que essa iguaria marcou nossa infância.
Naquele tempo, a água do mar às vezes invadia o Canal do Rio Grande, entrava na Lagoa dos Patos e chegava até a praia do Laranjal. Junto com a água salgada vinham os camarões e os pescadores faziam a festa. Era uma fartura geral e comia-se camarão no almoço e no jantar.
Será que isso ainda acontece na Lagoa dos Patos? Não sei.
Eu pedi camarão frito e ele me alertou para não comer o rabo do bicho. Eu disse que estava bem frito e que não havia problema. Com arroz e cerveja é uma delícia, acrescentei. E acho que ele também lembrou que, algum dia, a mãe colocou uma prato desses no meio da mesa (ou mandou a empregada colocar) e comemos deliciados.
Meu irmão e eu, no entanto, não falamos coisas de infância. Estávamos magnetizados pela cidade e comentamos a respeito da vida que rola nos prédios de vidro e aço que abrigam as multinacionais às quais ele está vinculado. Ele falou sobre os mitos do mundo corporativo – a mitologia que desenha as empresas privadas funcionando ao ritmo límpido e racional do mercado, sem golpes sujos, truculências nem corrupção (“Isso só acontece em Brasília!”) – e depois pulamos para o lado mais agradável de SP: os restaurantes, bares e teatros. E museus e livrarias, ele acrescentou, pois sabia que era em função disso que eu estava ali. O lado agradável de SP, claro, para quem se coloca como consumidor e espectador dos espaços gastronômicos e culturais da cidade.
São Paulo é um lugar para poucos, ele dizia, apesar dos milhões que habitam a megalópole. As diversões e prazeres são caros, caríssimos, e, se o sujeito bobeia, volta para casa com a carteira vazia ou com o cartão de crédito estourado.
Depois do almoço nos despedimos na beira da calçada – ele pegando um táxi para o aeroporto; eu, um outro até a estação do metrô – e súbito senti que éramos dois homens na faixa dos 50. Não éramos os guris que jogavam bola no pátio de casa, mas tínhamos algo daquele deslumbramento de menino. Marcados pela provinciana Pelotas dos 60, encantados com a Paulicéia dos anos 2000, estávamos no coração do capitalismo brasileiro, certos de que poderíamos fazer alguns gols – isto é, de usufruir ao menos parte do espetáculo variado dessa megalópole alucinante.

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