quarta-feira, 21 de março de 2012

Piso do Magistério

Durante o Governo Jair Soares, o Magistério Estadual encarou uma greve e conquistou um piso de 2,5 salários mínimos. Para muitos professores, parecia ser a greve definitiva, a última de um ciclo que iniciara em 1979, por recomposição salarial e valorização da profissão. O acordo de greve previa aumentos parcelados e só no final do Governo Jair passamos a receber o almejado piso. Atualizado os valores, daria hoje R$ 1.550,00.
Na campanha eleitoral de 86, espalhou-se o temor de que o piso não estava assegurado e que somente o candidato do PMDB garantiria “as conquistas da categoria”. Tal avaliação levou o Magistério em peso a votar no peemedebista Pedro Simon e talvez a garantir sua vitória. Ao chegar ao poder, porém, Simon achou que a coisa sairia muito cara e rasgou o que considerávamos um compromisso.
Seguiu-se outra greve, dessa vez com acampamento na praça em frente ao Palácio Piratini. Durante a ocupação da praça, uma colega fez um cartaz com trechos de um discurso de César Schirmer e pregou numa árvore. Schirmer era então Secretário da Fazenda e o seu discurso – veementemente a favor do piso do Magistério – fora pronunciado na Assembléia Legislativa, quando fazia oposição ao Governo Jair. O texto era nossa leitura diária – estava pregado em frente da barraca do meu grupo – e muito conversamos a respeito daquela mudança do PMDB, procurando entender por que o Governo Simon não encarava um investimento na categoria e também na educação. Por que nos achava tão caros, ora bolas?!
No dia em que desmontamos o acampamento na praça, derrotados completamente (“massacrados como os armênios pelo governo turco”, escreveu o jornalista Sérgio Jockyman), lembro que o desanimo era geral. O atual Secretário de Educação, José Clóvis de Azevedo, desmontava a barraca do Colégio Parobé e nos fazia uma preleção a respeito dos assalariados no sistema capitalista. “Nossa luta não tem fim”, ele dizia. Eu voltei arrasado para casa, com a impressão de que o governo agia como um coveiro do Magistério...
Até hoje, por sinal, tenho essa avaliação: o Governo Simon enterrou as ilusões criadas pelo CPERS a partir de 79 e empurrou muitas lideranças para caminhos radicais. A cerimônia pública dos professores peemedebistas rasgando suas filiações ao PMDB, logo após o encerramento da greve, foi sintomática desse estado de espírito. No meu caso, a derrota de 87 me levou a pensar seriamente em sair do Magistério Estadual – o que consegui quatro anos depois.
E agora, quando novamente o Magistério tem um piso estabelecido – mesmo que seja de forma parcelada, como ocorreu ao longo do Governo Jair – penso que essa situação seria outra se o Governo Simon não tivesse jogado no lixo o piso de 2,5 salários mínimos. A história da categoria – e talvez da educação no Rio Grande do Sul – seria outra, bem outra, provavelmente.

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