Estou
lendo Lisboa em Pessoa, um roteiro
turístico inspirado num texto de Fernando Pessoa e escrito por João Correia
Filho (Editora Leya, 2011, 376 p.). Pessoa era um lisboeta entusiasmado por sua
cidade e no início da década de 1920 preparou uma sugestão de passeio pela
capital portuguesa: Lisboa: o que o
turista deve ver. Com base nesse texto (que permaneceu inédito até a década
de 1990), o jornalista e fotógrafo brasileiro João Correia Filho preparou este Lisboa em Pessoa, com diversas sugestões
de roteiros para bater pernas e se encantar com o mundo lisboeta. Vai ser meu
guia na próxima viagem.
Já
estive em Lisboa mais de uma vez e confesso que não conheço nem um terço do que
“o turista deve ver”. Uma vez jantei no Teatro São Carlos, no Chiado, e tinha a
vaga noção de que Fernando Pessoa nascera numa casa das proximidades. Planejara
que depois do jantar caminharia no entorno do teatro, procurando a tal casa,
mas um doido tentou vender um quadro para minha mulher, ficou nos esperando na
porta do restaurante, e tivemos que sair apressados. O garçom nos ajudou a
despistar o pintor e fomos quase correndo em direção a Rua Almeida Garret para pegarmos um táxi. A casa do poeta ficou para outra oportunidade.
Voltei ao Chiado outras vezes, mas nunca mais fiz a caminhada em torno do Teatro São
Carlos, procurando a casa de Pessoa – a qual, segundo Correia Filho, tem apenas
uma pequena placa anunciando que ali nasceu o poeta. A Casa Fernando Pessoa, um centro cultural dedicado ao mestre de “Tabacaria”, fica mais adiante (no bairro
Estrela) e dessa vez pretendo visitá-la (Rua Coelho da Rocha, nº. 16).
No itinerário
que contempla a visita a Casa Fernando Pessoa, Correia Filho propõe uma longa
caminhada, iniciando no Parque Eduardo VII (na frente do qual me hospedei na
primeira vez que estive em Lisboa), passando pelo Aqueduto das Águas Livres e
chegando até a Basílica Estrela. Uma caminhada e tanto que, ao menos agora,
estou disposto a cumprir. No entanto me conheço, sou daqueles turistas que não
seguem os roteiros à risca. Às vezes paro num parque e fico fotografando (o que
pode acontecer no Parque Eduardo VII ou no Jardim Estrela, outro local do itinerário).
Ou então entro numa igreja e divido meu olhar entre as imagens sacras, os frequentadores
devotos e as pacientes faxineiras esfregando o chão ou tirando o pó
dos altares. Os santos portugueses são belíssimos, muito expressivos, as Nossas
Senhoras, encantadoras, que não há como não parar e se esquecer do mundo.
Anoitei
o passeio na agenda – Parque Eduardo VII até a Casa Fernando Pessoa –, mas sei
que posso me perder no caminho. Se não chegar antes da Casa Fernando Pessoa fechar
as portas (às 18 horas), direi a mim mesmo os versos de um de seus famosos
heterônimos (Álvaro de Campos): “Nada me prende a nada. / Quero cinquenta
coisas ao mesmo tempo. / [...] / [E] vivo num sonhar irrequieto” (Lisboa
revisited, 1926) – e estarei perdoado, quem sabe.
Lisboa é ótima, por isso, segundo os alfacinhas, é Lisbótima.
ResponderExcluirBom seria nos encontrarmos por lá.
Um abraço
Vaz