O desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva é um
caso emblemático do Regime Militar brasileiro. Rubens Paiva era deputado
federal do PTB e foi cassado logo na primeira leva, após o Golpe de 64.
Acreditou que poderia fazer oposição democrática ao governo militar e se deu
mal. No dia 20 de janeiro de 1971 teve a sua casa “invadida por seis militares
à paisana armados com metralhadoras” e obrigado a “comparecer na Aeronáutica
para prestar depoimento”. Foi no seu próprio carro. Nunca mais voltou. Seu
corpo está desaparecido até hoje.
No dia 24 de fevereiro de 1971, foi publicada no Diário Oficial da União a versão oficial
do episódio: “quando [Rubens Paiva] era conduzido para ser inquirido sobre
fatos que denunciam atividade subversiva, teve seu veículo interceptado por
elementos desconhecidos, possivelmente terroristas, empreendendo fuga para
local ignorado”.
Na semana passada, documentos encontrados na casa do
coronel reformado Júlio Molina Dias (morto em assalto, no início do mês) dão
conta de que o ex-deputado entrou no DOI-Codi / 1º Exército / Rio de Janeiro,
no dia 20 de janeiro. Em resumo, não houve a fuga espetacular. O caso é
emblemático, pois revela as arbitrariedades cometidas e as posteriores farsas
encenadas pelas autoridades.
Rubens Paiva não estava ligado às organizações
armadas, mas tinha contato com seus integrantes. Segundo o filho, o escritor
Marcelo Rubens Paiva, uma carta de exilado político no Chile, enviada ao
ex-deputado, foi interceptada pelos órgãos de segurança e daí seguiu-se a
investigação. Os militares tinham contas a ajustar com o ex-deputado (ele
guardava provas do auxílio financeiro da CIA às organizações que faziam
oposição ao Governo Jango) e se excederam no interrogatório. Um “acidente de
trabalho”, segundo o ex-presidente Médici (comentário escutado pelo senador
Vitorino Freire).
A notícia do achado dos documentos do DOI-Codi, comprovando
ingresso do ex-deputado no 1º Exército, indicam um novo capítulo no caso do
“desaparecimento de Rubens Paiva”. Li a matéria na Zero Hora da semana passada e recortei para guardar. Passei na
Biblioteca do Campus e retirei o livro Feliz
ano velho, do filho do ex-deputado, para reler. O livro é de 1982 e foi um
sucesso nos anos 80. Teve quarenta edições.
Marcelo tinha onze anos quando os militares entraram
em sua casa. Logo depois, a mãe o mandou levar um recado para uma vizinha: “O Rubens Paiva foi
preso, ninguém pode vir aqui, senão é preso também”.
Segundo depoimento do escritor, após a descoberta de
documentos do DOI-Codi na casa do coronel reformado, a surpresa foi geral: “Por
que ele guardava (...)? Era uma espécie de souvenir da guerra suja?”
Um souvenir, provavelmente. E quem sabe o indício de que o
coronel também queria contar a sua versão do caso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário