terça-feira, 20 de novembro de 2012

Os barulhos da cidade


     Estive em São Leopoldo e passei três noites num hotel do centro da cidade. Num dia de manhã, na portaria, ouvi uma hóspede reclamar dos barulhos da noite e fiquei pensando no assunto. A janela do seu quarto dava para a rua e ela escutara, durante a madrugada, a algazarra de "drogados e prostitutas" na calçada do hotel. Não conseguira pregar no sono. A janela do meu quarto também era voltada para a rua, porém eu não escutara coisa alguma. Ouvira, isto sim, no início da noite, os potentes aparelhos de som de diversos carros. Mas isto até a meia-noite. Depois, praticamente desapareceu o chamado "som automotivo".
     Desapareceu de circulação ou eu ferrei no sono? Não sei. Seja como for, as cidades ficaram demasiadamente barulhentas. A gurizada e seus terríveis conjuntos de auto-falantes nas traseiras dos automóveis tornaram-se uma provação para grande número de moradores. Haja paciência para aguentar a altura das músicas e sua impertinência nas mais variadas horas do dia e da noite!
     Caberia fazer uma história dos ruídos das cidades? Investigar a mudança de perfil sonoro das cidades e descobrir quando elas passaram a ser dominadas por excessos de barulhos, seja de máquinas, ônibus ou trens, seja de instrumentos musicais e aparelhos de som em bares, boates, clubes, templos religiosos e automóveis? Um assunto a pesquisar, me parece.
     Eu sou um nostálgico das madrugadas silenciosas e gostaria de entender essa transformação. Fui criança em Pelotas e gostava de suas noites sossegadas. Abria a porta de casa, avistava o Cruzeiro do Sul e escutava o canto dos grilos. Fui adolescente em Porto Alegre, no bairro Floresta, e ouvia o bonde solitário cruzar a Avenida Cristóvão Colombo durante a noite. Os bondes rareavam depois das 22 horas e parecia que a cidade caia em sono profundo.
   Dia desses escutei um porto-alegrense se queixar da nova regulamentação da Prefeitura para os bares noturnos e achei estranho que ele dissesse que noites silenciosas apenas existiam nas cidades do interior. Um porto-alegrense como muitos, isto é,  que não conhece o interior do Rio Grande e pouco sabe que suas cidades são barulhentas e agitadas, como bem demonstram algumas avenidas de Santa Maria, Cruz Alta e São Leopoldo também.
    Caberia mesmo uma investigação para esclarecer a mudança sonoro  de nossas cidades. Mas quanto aos "drogados e prostitutas" que a hóspede falara... Bem, isto talvez seja outra história. Outro tema para pesquisas, monografias, teses e essas conversas todas que se fazem nos espaços acadêmicos, que tudo transformam em objeto de estudo e discussão teórica. 

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