Leio no sítio Vermelho,
do Partido Comunista do Brasil, que foram exumados mais dois “restos mortais”
de combatentes da Guerrilha do Araguaia (1972-75), na região dos estados de
Tocantins e Pará, em junho deste ano. A notícia fala em restos mortais e não em cadáveres. Sabe-se
que, em alguns casos, os guerrilheiros mortos foram decapitados, mas a notícia
não trata disso. Apenas indica que o material se encontra em “avançado estágio
de degradação” e que isto dificulta a extração de DNA.
Os restos mortais foram levados para Brasília e
passarão por exames no Instituto Médico-Legal e no Instituto Nacional de
Criminalística da Polícia Federal. Nos últimos quatro anos, já foram recolhidos
19 “corpos” e o processo de identificação tem sido lento.
Até junho de 2009, havia a informação de 25 execuções
realizadas pela Forças Armadas na luta contra os guerrilheiros do PCdoB.
Naquele ano, o major Curió abriu seu arquivo pessoal para o jornal O Estado de S. Paulo e acrescentou mais
16 casos. Dessa maneira, 41 (dos 69 mortos do movimento guerrilheiro) foram
“presos, amarrados e executados, quando não ofereciam risco às tropas”, segundo
o jornal.
O major Curió declarou ao Estadão, em 2009, que se sentia no compromisso de prestar essas
informações. Mas, no início dos anos 90, não era esta a sua posição. Afinal, em
1993, foi publicado um romance que denunciava a política de extermínio que as
Forças Armadas realizaram no Araguaia e Curió tomou medidas legais para “apurar
as mentiras” do autor.
O que será que incomodava o major? A denúncia da
política de terror que as Forças Armadas exerceram sobre a população do
Araguaia e os guerrilheiros ou o fato de Curió aparecer no romance na figura do
Dr. Zeca?
O romance se chama Xambioá:
guerrilha do Araguaia (Editora Record, 252 p.) e seu autor é Pedro Corrêa
Cabral, coronel-aviador reformado, que participou da última campanha. No
romance – o gênero que o autor encontrou para aliviar “uma dor que venho
guardando, no fundo da minha alma, por quase vinte anos” – são narrados os
últimos combates, o aprisionamento de guerrilheiros, a tortura e o fuzilamento
dos mesmos. Alguns desses prisioneiros se entregaram espontaneamente, mas nem
por isso foram poupados.
No final da campanha militar, os corpos foram levados a
um lugar inacessível, escondidos com o propósito de “limpar a área para evitar
que a imprensa (...) venha bisbilhotar depois que formos embora”, explica um
personagem. Os corpos são transportados de helicóptero e, ao final, descobrimos
que o piloto da aeronave é próprio autor da narrativa – Pedro Corrêa Cabral,
então capitão-aviador da FAB. Uma história que parece não ter fim.
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