Aos quinze anos, comecei a escrever uma história policial.
Influência dos romances de Agatha Christie e Ian Fleming, mais um e outro
filme hollywoodiano. Na primeira cena, a camareira de um hotel suíço encontrava
um cadáver e logo era chamado o detetive. O hotel ficava numa aldeia, entre os
Alpes, e eu tirara o cenário de uma foto de calendário.
O detetive examinava o local do crime e logo descobria
o cartão de uma modista de Paris. Aquilo parecia não indicar coisa alguma, mas
logo se revelava o ponto de partida para chegar ao criminoso. O assassino era o
irmão da modista...
A história não convencia ninguém (nem ao autor) e não
teve conclusão. O detetive não pôs a mão no criminoso e ele, até hoje, deve
andar por aí.
Lembrei dessa história quando estive na Feira do Livro
de Bagé, no ano passado, para lançamento do Milongueiro,
organizado por Athos Miralha da Cunha. Milongueiro
é um livro de contos, publicado pela Editora Movimento, composto por doze
contos – cada conto dividido em quatro partes, cada parte escrita por um autor.
Um livro coletivo, de autoria do Athos, Tânia Lopes, Candinho (Antônio Cândido
Azambuja Ribeiro) e eu.
A temática é regionalista – com coronéis, fazendeiros,
chimangos e maragatos, o chinaredo e
o Grupo dos Onze – e lá estávamos nós numa das cidades emblemáticas da Campanha
sul-rio-grandense. O lançamento foi um fracasso – não havia exemplares do livro
para vender (a editora não enviara) –, mas, enfim, estávamos em Bagé.
Dei uma volta ao redor da praça Silveira Martins (onde
acontecia a Feira), tirei fotos do casario e pensei: se o guri de quinze anos que
eu fui tivesse conhecido esta cidade, na certa ambientaria o seu romance
policial por ali. Um belo cenário! O criminoso estrangularia o seu desafeto
numa daquelas casas e depois embarcaria num Jeep em direção a Montevidéu. Lá, assaltaria
as economias da irmã (uma sofisticada costureira), depois pegaria o vapor para
Buenos Aires e sumiria na Patagônia.
Mas o menino que eu era vivia na faixa litorânea do
estado, entre Pelotas e Porto Alegre, tinha a imaginação colonizada por literatura
e filmes estrangeiros e pouca coisa além disso. Cenários de livros e filmes só podiam
ser as aldeias nevadas da Suíça ou a cinzenta Paris, jamais uma singela cidade
da Campanha rio-grandense e as portentosas capitais às margens do Rio da Prata.
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