sexta-feira, 20 de julho de 2012


Romance policial

Aos quinze anos, comecei uma história policial. Influência dos romances de Agatha Christie e Ian Fleming, mais um ou outro filme hollywoodiano. Na primeira cena, a camareira de um hotel suíço encontrava um cadáver e logo era chamado o detetive. O hotel ficava numa aldeia, entre os Alpes, e eu tirara o cenário de uma foto de calendário.
O detetive examinava o local do crime e logo descobria o cartão de uma modista de Paris. Aquilo parecia não indicar coisa alguma, mas logo se revelava o ponto de partida para chegar ao criminoso. O assassino era o irmão da modista...
A história não convencia ninguém (nem ao autor) e não teve conclusão. O detetive não pôs a mão no criminoso e ele, até hoje, deve andar por aí.
Lembrei dessa história quando estive na Feira do Livro de Bagé, no ano passado, para lançamento do Milongueiro, organizado por Athos Miralha da Cunha. Milongueiro é um livro de contos, publicado pela Editora Movimento, composto por doze contos – cada conto dividido em quatro partes, cada parte escrita por um autor. Um livro coletivo, de autoria do Athos, Tânia Lopes, Candinho (Antônio Cândido Azambuja Ribeiro) e eu.
A temática é regionalista – com coronéis, fazendeiros, chimangos e maragatos, o chinaredo e o Grupo dos Onze – e lá estávamos nós numa das cidades emblemáticas da Campanha sul-rio-grandense. O lançamento foi um fracasso – não havia exemplares do livro para vender –, mas, enfim, estávamos em Bagé.
Dei uma volta ao redor da praça Silveira Martins (onde acontecia a Feira), tirei fotos do casario e pensei: se o guri de quinze anos que eu fui tivesse conhecido esta cidade, na certa ambientaria o seu romance policial por ali. Um belo cenário! O criminoso estrangularia o seu desafeto numa daquelas casas e depois embarcaria num Jeep em direção a Montevidéu. Lá, assaltaria as economias da irmã (uma sofisticada costureira), depois pegaria o vapor para Buenos Aires e sumiria na Patagônia.
Mas o menino que eu era vivia na faixa litorânea do estado, entre Pelotas e Porto Alegre, tinha a imaginação colonizada por literatura e filmes estrangeiros e pouca coisa além disso. Cenários de livros e filmes só podiam ser as aldeias nevadas da Suíça ou a cinzenta Paris, jamais uma singela cidade da Campanha rio-grandense e as portentosas capitais às margens do Rio da Prata. 

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