domingo, 22 de julho de 2012


Fortaleza dos Aparados da Serra

Um amigo me ligou uma noite dessas e contou que esteve no parque nacional de Fortaleza dos Aparados da Serra. Ele passou pelo Itaimbézinho e depois foi até a beira do Malacara, para ver o litoral de Santa Catarina. Mas acrescentou que o tempo estava ruim e que não deu para enxergar coisa alguma.
Eu também nunca peguei tempo bom nas bordas da Serra Geral. Na primeira vez – há quase quarenta anos –, chovia e não vi grande coisa. As nuvens tomavam conta do cenário. Três anos depois, voltei, mas não cheguei até a encosta da Serra. Fiquei pelo meio do caminho e acampei no Itaimbézinho, bem perto do canyon.
Nessa oportunidade, fazia um tempo agradável e minha namorada e eu tomamos banho no arroio que deságua dentro do canyon. Ficávamos em silêncio dentro da água, escutando os pequenos ruídos que vinham da mata e o barulho da cachoeira, mais adiante.
Mas não desci o Itaimbezinho. Nunca desci – como meu amigo fez mais de uma vez. Só fiquei olhando a paisagem lá de cima – protegido – e o cenário ficou gravado nas minhas retinas. Jamais esqueci. É uma das jóias que guardo dentro de mim. No ano passado, levei meus filhos para conhecer o lugar e creio que eles se maravilharam.
Então meu amigo e eu comentamos as novas regras do parque – a proibição de fazer fogueira e também de acampar – e constatamos que as coisas mudaram. Foi a maneira que encontraram de preservar o meio ambiente, ele disse. Nos últimos anos, a visitação aos Aparados se dá em horário determinado e os visitantes se retiram ao entardecer. Rimos das mudanças e sentimos saudades dos “bons tempos”.
Mudaram as formas de curtir a natureza, concluímos. Está tudo mais organizado, talvez mais civilizado do que nos anos 70, aqueles velhos tempos selvagens... Agora é com hora marcada e depois se janta em torno de uma mesa, numa pousada, e ainda se dorme em cama com colchão e lençóis. Coisa muito fina para mochileiros.
E é legal desse jeito?, perguntei. É sim, ele respondeu. A mulher não se queixa do chão duro da barraca nem da falta de banheiro. Além disso, ele acrescentou, nem sei se conseguiria dormir no chão novamente. Eu disse que também não sabia. As costas incomodam, o reumatismo pegou. Já não sou mais o mesmo.
Então lembramos dos lobos-guarás que conhecemos nos Aparados. Ou melhor, eu nunca cheguei a avistar algum. Certa vez me acordei ao amanhecer, vi que a despensa estava revirada e que alguns animais haviam atacado. Um bando de lobos-guarás, disse um fazendeiro da região. Foi desse jeito que o animal passou a existir para mim. Das outras vezes, quando montava o acampamento, sempre dava um jeito de proteger melhor os alimentos.
Gosto de lembrar desses lobos, disse ao meu amigo. Saber que na paisagem de Fortaleza dos Aparados os lobos-guarás sobrevivem e não correm o risco de serem extintos – como tantas espécies pelo mundo. Provavelmente devido às novas regras do parque. Pelo menos para isso elas servem.

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