terça-feira, 15 de maio de 2012


Rincão das Pelotas

Estive num sebo de Porto Alegre semanas atrás e ganhei do livreiro dois exemplares de Caderno de História, editados pelo Memorial do Rio Grande do Sul, um deles dedicado à Pelotas. Uma narrativa singela da história da cidade (escrita por José Antônio Mazza Leite), com as linhas gerais da sua formação e um destaque especial aos seus nomes ilustres.
A começar por José Pinto Martins, um cearense que chegou a região em 1777 – então conhecida como Rincão das Pelotas – e iniciou a produção de charque. Um ano antes os castelhanos haviam sido expulsos de Rio Grande (depois de um domínio de treze anos) e o povoamento do futuro município recém engatinhava. Em 1812, foi estabelecida a primeira capela e logo depois buscaram a imagem de São Francisco de Paula, numa fazenda de Mostardas.
Essa história da imagem de São Francisco, penso que não tem pelotense que não conheça. A imagem se encontra até hoje na Catedral e sua origem é a Colônia de Sacramento. Em 1777, depois de uma das tantas invasões espanholas, a imagem foi embarcada na carreta de uma família fugitiva e de lá veio até Mostardas. São Francisco de Paula é o padroeiro da cidade e a história da imagem é sempre narrada durante as procissões.
Pelotas se transformou num pólo de charqueadas e muitas das suas figuras ilustres surgem em torno dessa atividade: Domingos José de Almeida e Antônio Gonçalves Chaves, por exemplo, dois charqueadores e escravocratas. Domingos José de Almeida participou na Revolução Farroupilha e teve cargos importantes na República de Piratini. Gonçalves Chaves foi o primeiro proprietário da charqueada São João – casarão muito bem conservado e cenário do seriado de TV A casa das sete mulheres. Apesar de dono de escravos, questionou a viabilidade econômica dessa forma de relação de trabalho, num livro publicado em 1822: Memórias ecônomo-políticas sobre a administração pública no Brasil.
A ênfase desse pequeno texto do Caderno de História, por sua vez, são as glórias do período em que a cidade foi a “capital do charque”: os anos de 1860 a 1890. A partir do final do século XIX as charqueadas se deslocaram para a região da Campanha (fronteira com o Uruguai, para facilitar o contrabando) e o poderio econômico de Pelotas declinou. Em 1932 ocorreu a quebra do Banco Pelotense e isto marcou o início de uma estagnação econômica que vigorou durante décadas na região.
         Mas sobraram realizações dos velhos tempos para serem festejadas e é disso que o texto trata. Uma delas, a tradição cultural, caracterizada pela “indústria editorial” da Livraria Americana e da Livraria Universal. Esta última editou três livros de João Simões Lopes Neto – um escritor municipal no início do século XX e, hoje, talvez a figura de maior projeção nacional que a cidade abrigou.  

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