segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Museu Nacional - tragédia anunciada

           Difícil assimilar a destruição do acervo do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no último domingo. Enquanto escrevo, ainda não há nada conclusivo a respeito das causas do incêndio. No noticiário de TV, ouvi que pode ter sido um curto circuito. Um risco apontado há muitos anos e até discutido no Conselho Estadual de Cultura, do Rio de Janeiro, em 2014, quando foram apresentadas denúncias de fiações expostas. O próprio diretor do museu na época, Sérgio Azevedo, reconheceu a situação complicada e disse que tal quadro era ruim desde meados dos anos 90. De lá para cá, a situação só se agravou e o Museu foi fechado várias vezes.

Quando visitei o Museu Nacional pela primeira vez, em 2007, a situação não era boa. Fiquei chocado com a precariedade, mas maravilhado com o seu acervo (mesmo que apresentado de maneira um pouco confusa). Quando o visitei novamente, no final de julho desse ano, o choque foi muito maior. Alguns espaços estavam interditados, havia salas fechadas, e já se notava o reboco de uma parede externa se deteriorando.

Fiquei parado numa sacada, olhando os jardins e um guarda me pediu para não ficar ali muito tempo. “Não é seguro”, ele disse, e percebi certo constrangimento quando ele explicou que “o prédio é antigo, não está bem conservado e é necessário tomar cuidado”. Mesmo assim, mesmo com essa precariedade, a visita foi excelente, e revi algumas peças com muita satisfação e conheci outras que não dei atenção na primeira vez.

Privilegiei as salas com material histórico e antropológico – como a maioria dos visitantes, sou magnetizado pela Sala Egípcia –, mas também apreciei o acervo paleontológico e, especialmente, os seus pequenos visitantes, a meninada. Uma gurizada que dava gritos de alegria e espanto vendo a reconstituição de um dinossauro – o Maxakalisaurus topai, de 13 metros de comprimento – e outros animais pré-históricos, como a fantástica preguiça-gigante. 
Sala de Paleontologia - reconstituição de uma preguiça-gigante.
Uma gurizada que deve estar agora com os olhos cheios de lágrimas, pensando que nunca mais visitarão aquele Museu e viverão o mesmo espetáculo daquela tarde: o da reconstituição de animais pré-históricos e o contato direto com vestígios de outras civilizações, como a egípcia, a romana e de povos pré-colombianos, como os Incas, os Jivaros, os Tikunas. Uma gurizada que talvez esteja experimentando pela primeira vez o sentimento da perda, da perda irremediável, da perda incompreensível.
Sala de Etnologia Indígena Brasileira - no primeiro plano, máscara Tikuna.
Ainda não consegui assimilar a destruição do que aconteceu com o Museu Nacional. Mas seguramente se trata de uma tragédia anunciada, como declararam à imprensa vários funcionários e pesquisadores do Museu.

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