sábado, 8 de setembro de 2018

A polêmica a respeito dos Romanov

         O historiador francês Marc Ferro coloca em xeque a versão de que a família do último czar da Rússia foi fuzilada pelos bolcheviques, na noite de 16 de julho de 1918. Segundo Marc Ferro, apenas o ex-czar Nicolau II foi morto naquela noite – ele, mais o médico e três empregados da família (mortos esses últimos para fazer número e/ou ocultar a farsa montada). A czarina, suas quatro filhas e o herdeiro, Alexei, foram poupados.

Para isso, houve uma negociação entre o governo comunista e o kaiser Guilherme II, que desejava salvar os membros da família real russa com sangue alemão (a czarina era alemã). No acordo, a Alemanha se comprometeu a sair da Bielorrúsia, entregar dois membros da organização spartaquista, enquanto os Sovietes reconheciam a independência dos Estados Bálticos, deixavam de incentivar a propaganda revolucionária entre o proletariado alemão e entregavam a imperatriz alemã e seus filhos.

Assim, após o assassinato do ex-czar, um comboio conduz secretamente os sobreviventes da família real em direção a Moscou e dali para fora da Rússia. No caminho, porém, desaparece Alexei e a princesa Anastasia foge com um guarda. Sobre Alexei não há pistas plausíveis (apenas uma história rocambolesca), mas Anastasia aparece mais tarde, na década de 1920, e sua identidade vai ser contestada. Injustamente contestada, segundo o autor.

Enquanto isso, ainda segundo Marc Ferro, a imperatriz e suas três filhas são acolhidas por membros da nobreza europeia, sem alarde, pois assim convinha ao movimento contrarrevolucionário que pretendia reinstaurar a monarquia na Rússia. Restaurar a partir de outra linha sucessória que não a estabelecida por Nicolau II, visto que esse soberano era avaliado como incompetente e sua memória incapaz de empolgar os nostálgicos do Antigo Regime.
Para muitos historiadores, a hipótese que Marc Ferro encampa – a da sobrevivência da imperatriz e das princesas – não passa de uma lenda. O historiador francês, porém, argumenta com tanta propriedade, levanta documentos e testemunhos tão contundentes, que, ao menos no meu caso, convence. Essa tese ele já anunciara em 1990, ao publicar na França uma biografia de Nicolau II – recebida, segundo ele próprio, “com uma indiferença e um silêncio glaciais”. Em 2012, o autor sintetizou o assunto num pequeno livro – A verdade sobre a tragédia dos Romanov –, o qual foi publicado no Brasil (Editora Record, 2017, 160 p.).
É um pequeno livro impactante, recomendável para quem se interessa por Revolução Russa e/ou gosta de histórias de famílias reais. No meu caso, os dois temas agradam. São assuntos para muitas leituras e conversas. Para quem indiquei o livro, uma professora apaixonada por História, a leitura foi daquelas de varar a noite. Um tema polêmico que ainda rende.

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