Para isso, houve uma negociação
entre o governo comunista e o kaiser Guilherme II, que desejava salvar os
membros da família real russa com sangue alemão (a czarina era alemã). No
acordo, a Alemanha se comprometeu a sair da Bielorrúsia, entregar dois membros
da organização spartaquista, enquanto os Sovietes reconheciam a independência
dos Estados Bálticos, deixavam de incentivar a propaganda revolucionária entre
o proletariado alemão e entregavam a imperatriz alemã e seus filhos.
Assim, após o assassinato do
ex-czar, um comboio conduz secretamente os sobreviventes da família real em direção
a Moscou e dali para fora da Rússia. No caminho, porém, desaparece Alexei e a princesa Anastasia foge com um guarda. Sobre Alexei não há pistas plausíveis
(apenas uma história rocambolesca), mas Anastasia aparece mais tarde, na década
de 1920, e sua identidade vai ser contestada. Injustamente contestada, segundo
o autor.
Enquanto isso, ainda segundo Marc
Ferro, a imperatriz e suas três filhas são acolhidas por membros da nobreza europeia,
sem alarde, pois assim convinha ao movimento contrarrevolucionário que
pretendia reinstaurar a monarquia na Rússia. Restaurar a partir de outra linha
sucessória que não a estabelecida por Nicolau II, visto que esse soberano era
avaliado como incompetente e sua memória incapaz de empolgar os nostálgicos do
Antigo Regime.
Para muitos historiadores, a
hipótese que Marc Ferro encampa – a da sobrevivência da imperatriz e das
princesas – não passa de uma lenda. O historiador francês, porém, argumenta com
tanta propriedade, levanta documentos e testemunhos tão contundentes, que, ao
menos no meu caso, convence. Essa tese ele já anunciara em 1990, ao publicar na
França uma biografia de Nicolau II – recebida, segundo ele próprio, “com uma
indiferença e um silêncio glaciais”. Em 2012, o autor sintetizou o assunto num
pequeno livro – A
verdade sobre a tragédia dos Romanov –,
o qual foi publicado no Brasil (Editora Record, 2017, 160 p.).
É um pequeno livro impactante, recomendável para
quem se interessa por Revolução Russa e/ou gosta de histórias de famílias reais. No meu caso, os dois temas agradam. São assuntos para muitas
leituras e conversas. Para quem indiquei o livro, uma professora apaixonada por
História, a leitura foi daquelas de varar a noite. Um tema polêmico que ainda rende.
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