Ando turistando em Lisboa. E uma das minhas
referências é o guia turístico e literário do jornalista João Correia Filho, Lisboa em Pessoa (Editora Leya, 2011). Baseado
em roteiro escrito por Fernando Pessoa, o jornalista recriou os itinerários propostos
pelo poeta e tento seguir esses roteiros. Muitas indicações sobre livros e autores. Mas nem sempre acerto.
Logo que cheguei, saí à cata do local onde nasceu Fernando Pessoa – no entorno
do Teatro de São Carlos, no Chiado – e demorei a encontrar. Precisei do
auxílio de um nativo (no caso, uma atenciosa funcionária de uma loja). Ela me falou de uma estátua – um homem com um
livro no lugar da cabeça (uma estátua conhecida) – e encontrei o prédio. Bem na frente do teatro. Ali o poeta nasceu e viveu os primeiros anos (no quarto andar). Imaginei uma infância enfeitiçada pelo som de concertos e óperas vindos do teatro... Anos atrás,
jantei no restaurante do teatro e lembrei que o poeta nascera por ali. Era uma
noite muito fria.
Prédio onde nasceu Fernando Pessoa - no quarto andar. |
Hoje, mais uma vez andei pelo Chiado atrás de
outra indicação de João Correia Filho: o antigo Grand Hotel Central, local de
uma das cenas d’Os Maias, de Eça de
Queirós. Foi nesse hotel que Carlos da Maia viu pela primeira vez Maria Eduarda (que ele não sabia ser sua irmã). Ela desceu de um coupé na frente do hotel e passou
diante dele “com um passo soberano de deusa, maravilhosamente bem feita,
deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro e um
aroma no ar”. Carlos da Maia se apaixonou.
No mapa do livro de João Correia Filho, o local do
hotel está marcado na Rua do Alecrim, mas não fica claro o local preciso e não houve jeito de encontrá-lo. Hoje procurei mais uma vez e acertei. Tinha entrado
na Livraria Sá da Costa (na Rua Garret), folheado uma geografia queirosiana e
visto uma foto antiga do hotel. Depois desci novamente a Rua do Alecrim e lá estava. Atualmente
é um hotel boutique. Entrei no prédio para confirmar a informação, conversei
com a funcionária do balcão – uma linda moça –, mas ela pareceu não saber quem era Eça
de Queirós. Gentilíssima, ela disse que aquele prédio bem poderia ter abrigado
o hotel a que eu me referia e ficou sorrindo para mim. Acho que estávamos em mundos diferentes.
Literatura demais, eu pensei. Literatura demais para
uma cabeça tão jovem. Essa guria deve ter outras referências culturais, um
mundo que nem imagino. Agradeci a atenção e fui embora. Fui dar uma banda nas margens
do Tejo.
Antigo Grand Hotel Central. |
Ando turistando em Lisboa. Já subi e desci a Rua do
Alecrim diversas vezes e sempre fotografo a estátua de Eça de Queirós. Guri do curso
colegial, os contos de Eça faziam parte das minhas leituras e releituras. Tenho
um exemplar todo sublinhado.
Nos anos 80, fiz um curso de criação literária (na PUC
de Porto Alegre) e o professor indicou Os
Maias como leitura imprescindível. Levei anos para conseguir a calma
necessária para a leitura completa dos dois volumes. Um livro fascinante – que rendeu
uma minissérie da Globo igualmente admirável, com uma Maria Eduarda lindíssima
(interpreta por Ana Paula Arósio) e uma Maria Monforte (a mãe de Carlos e Maria
Eduarda) igualmente inesquecível (interpretada por Marília Pera).
Ando turistando em Lisboa. Diante do Tejo, na tarde
desse domingo, tive a impressão de ter visto uma deusa mirando as águas do rio... mas foi só impressão. Logo segui em frente, em direção ao Mercado da Ribeira
(atual Mercado Time Out), para beber um cálice de vinho.
Espetáculo de conto e descrição de Lisboa. Quem conhece a cidade consegue acompanhar teus passos. Grande abraço! JJJ
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