Sempre há um momento em que a gente descobre a
fragilidade da vida. Este era o tema de uma conversa que tive semanas atrás,
com alguns alunos, no campus da UFSM.
Esta semana, um dos alunos retomou a conversa. Nos
encontramos no centro da cidade – numa manifestação de luto pelos mortos na
boate Kiss – e ele falou:
– Eu descobri na madrugada desse domingo. Descobri que
a vida é frágil, bem no centro de Santa Maria, diante de uma boate sofisticada.
Vinha caminhando pela Avenida Rio Branco, ouvi a sirene dos bombeiros e corri
para ver o que era. A bebedeira passou na hora. Vi tudo. O incêndio, a fumaça,
os corpos sendo retirados. Vi mais do que devia. De uma hora pra outra, dezenas
de mortos e feridos.
A história do meu aluno é dramática, de uma
intensidade violenta, e talvez sintetize a de muitos outros jovens de Santa
Maria – os sobreviventes. Esta geração não vai esquecer o que aconteceu.
Tenho escutado relatos dessa juventude e todos
conhecem alguém que morreu, que escapou, que está em observação no hospital, que
por pouco não entrou na boate, que decidiu ir noutro lugar.
Muitos falam dos shows de pirotecnia (que sempre
assistiram despreocupados), a maioria especula sobre a qualidade dos extintores,
sobre as saídas de emergência, as luzes de sinalização, os alvarás de
funcionamento, as responsabilidades dos engenheiros, dos bombeiros, dos
empresários e da Prefeitura.
Alguns querem entender como as coisas acontecem. O que
é da responsabilidade humana, o que está ao alcance das nossas ações? O que é fruto
da fatalidade e não é possível controlar?
Meu jovem interlocutor está arrasado. Ele quer saber
como uma faísca, uma simples faísca, provocou um número inacreditável de mortos
e feridos. Quem errou no combate a esse pequeno incidente? Onde as falhas (os
erros humanos) para que a faísca, o fogo e a fumaça tomassem proporções
trágicas?
Sempre há um dia em que a gente descobre a
precariedade da vida. E a juventude santa-mariense está descobrindo isso de
forma excessivamente dramática, brutal, insuportável.
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