O
assunto é antigo: no final do século XVII, os jesuítas espanhóis atravessaram o
rio Uruguai, penetraram no que viria a ser o atual estado do Rio Grande do Sul
e reconstruíram suas cidades, isto é, as chamadas reduções.
A primeira onda de evangelização ocorreu
nas décadas de 1620 / 1630 e foi interrompida pelos ataques dos bandeirantes
paulistas, que visavam à escravização dos indígenas. Acossados pelas agressões,
os jesuítas regressaram ao outro lado do rio.
A partir de 1682, no entanto, os religiosos
voltaram. Fundaram São Borja e depois mais outros seis povos – entre eles São
Miguel, com uma imponente igreja. A igreja de São Miguel Arcanjo era comparável
a muitas catedrais européias do período e suas ruínas permitem até hoje que percebamos as
suas dimensões grandiosas.
Em 1750, Portugal e Espanha negociaram as terras
pertencentes a esses Sete Povos Missioneiros e decretaram o fim do projeto dos
jesuítas na região. Os padres cruzaram novamente o rio Uruguai, enquanto os
índios guarani enfrentavam militarmente as tropas luso-espanholas. Em janeiro
de 1756, na batalha de Caiboaté, os índios foram derrotados e calcula-se que
tenham perdido mil e quinhentos guerreiros no episódio.
A chamada Região Missioneira do Rio Grande do Sul se
constrói a partir dessa derrota. Em 1801, os luso-brasileiros ocupam definitivamente
o território e, mais tarde, chegam os imigrantes alemães e italianos. Os
nativos ficam como população marginal diante dessa ocupação lusitana,
brasileira, alemã e italiana, e perdem o papel que tiveram durante o período
das reduções. Porém a história “da civilização criada no Rio Grande do Sul
pelos Padres Jesuítas e Índios Guarani” é apossada e recriada pelos novos
habitantes lusos, brasileiros e imigrantes.
Provavelmente, é essa uma das melhores histórias da
formação da sociedade sul-rio-grandense.
No último final de semana, visitei as
ruínas de São Miguel e dessa vez o que me chamou atenção foi a capacidade dos
jesuítas de superarem a derrota frente aos bandeirantes e voltarem. Regressarem
às terras abandonadas a contragosto e reconstruírem seu
projeto missionário. Levantarem escolas, oficinas e um grande templo
religioso. Superarem dores, frustrações e, mais tarde, serem derrotados
novamente.
Caminhando por cima das pedras que antes erguiam
escolas e oficinas, pensei nos homens corajosos que foram capazes de superar a derrota
e colocarem em pé seus projetos de grandeza e delírio.
Só pensei nisso: a capacidade que alguns têm de se
reerguerem, não esmorecerem e reconstruir.
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