domingo, 9 de dezembro de 2012

Compras em Rivera


Estava na Rua Sarandi, em Rivera, e resolvi comprar meias de um camelô de calçada.
Se o leitor conhece Rivera, sabe que eu estava na principal rua de uma área de freeshops, na fronteira do Uruguai com Rio Grande do Sul, famosa por oferecer as mais prestigiadas grifes de perfumes, bebidas, tênis e produtos eletrônicos. Era uma manhã de movimento, uma multidão circulava visivelmente satisfeita, e a última coisa que um bem informado consumidor de classe média pensava... era no comércio informal dos camelôs.
Mas eu não sou um consumidor bem informado e prestava atenção no trabalho incansável que os vendedores ambulantes faziam: oferecer mercadorias a consumidores ávidos, que os ignoram solenemente. Eu imaginava o que eles pensariam desses brasileiros sedentos por marcas estrangeiras e resolvi me aproximar. Isto é, comprar um conjunto de meias e quem sabe dizer que alguns de nós, consumidores de classe média, somos capazes de interagir com este setor do comércio ou algo assim.
Então, justo na hora em que coloco a mão no bolso, vem um homem baixo, humilde, me pedir alguma coisa. O camelô manda este homem embora. “Estou trabalhando”, ele diz. Eu percebo que o sujeito está querendo auxílio (mostrava uma carta explicando sua condição de ex-dependente químico) e também falo para se afastar. O homem sai resmungando e escuto o seu comentário:
– Esses sujeitos compram, compram e não conseguem dar dinheiro pra quem precisa!
Sim, eu não o ajudara. Gastara em perfumes, vinhos, um conjunto de meias e não dispensara um mísero real para aquele homem que anunciava estar em fase de reabilitação e precisava de auxílio.
Mas não me abalei com o pedido do homem e nem com a minha atitude “desumana”. Paguei as meias ao jovem camelô – que tinha uma barba preta, como eu usara tempos atrás – e as tenho vestido nos últimos dias.
Não são meias de muita qualidade e uma delas já furou. Não são como os excelentes tênis Nike, confeccionados no Vietnam, e vendidos nos freeshops. Mas talvez tenham vindo do Oriente também. De alguma fábrica de Hanói, Xangai ou de Taiwan. Mercadorias que atravessam o Atlântico e auxiliam a compor o cenário por onde circulam consumidores das mais variadas espécies. Alguns, até com sintomas de má consciência.

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