domingo, 1 de janeiro de 2012

O etrusco

O etrusco é um romance histórico de Mika Waltari, autor finlandês. Quem é aficcionado no gênero, conhece. Ele escreveu O egípcio, na década de 1940, seu maior sucesso, até hoje editado no Brasil.
Pois entrei num sebo anos atrás e encontrei uma edição d’O etrusco, da Editora José Olympio, 1958, com capa e páginas amareladas. Fiquei atraído pelo volume. Meu pai costumava falar desse autor e ter o livro entre as mãos foi como voltar à infância. O pai e a mãe guardavam livros que já tinham lido num armário no quarto de despensa e este autor estava entre os guardados...
Quando saímos de Pelotas, em 1967, e viemos morar em Porto Alegre, eles se desfizeram de muitas coisas – inclusive livros. Meu pai salvou alguns – dois deles eu ainda tenho: Contos, de Guy de Maupassant (Biblioteca dos Séculos, Editora Globo), e O aventureiro, de Mika Waltari. Este último, com as páginas amareladas pelo tempo.
Pegar o livro no sebo foi retomar esse diálogo antigo... Trouxe o livro para casa e só na semana passada, uns seis anos depois, encarei a leitura.
N’O etrusco, o personagem central rememora a vida depois de velho. Revela ao leitor o longo caminho que percorreu para descobrir que era um homem protegido pelos deuses, uma figura sagrada na antiga Etrúria.
A narrativa inicia no litoral da Jônia, às vésperas da revolta de Mileto contra o domínio persa. Um período fascinante para quem gosta de História Antiga: o das guerras entre gregos e persas, no século V a.C.
O narrador se envolve na revolta de Mileto, consegue escapar da derrota militar e vai fazer pirataria nas costas do Chipre e da Fenícia. Mais tarde, se refugia numa cidade grega da Sicília, vai para Roma, viaja pela Etrúria e descobre, enfim, que é um “lucumo”, um homem sagrado. De longe, acompanha as vitórias gregas em Maratona e, mais tarde, em Salamina.
E descobre que foi deixado na Jônia pelo pai, quando criança, sem saber coisa alguma da sua família. A crueldade do pai, no entanto, tinha um propósito: a de fazer o filho alcançar o conhecimento da sua condição por conta própria.
Li o romance com “olhos prosaicos”, isto é, sem me encantar com o maravilhoso mundo dos deuses antigos, seus mitos e ritos. Fui até o final do romance não apenas para saber o desfecho da trama, mas para solucionar outro enigma: aquele que as conversas com meu pai deixaram dentro de mim.
Um outro Mediterrâneo, uma outra guerra contra os persas – a me revelar que sou um homem comum, filho de um homem comum, e que isso é central na trama que me constitui: o relacionamento de um filho com o Pai e a sina de se reconstruir eternamente nesse enredo.

2 comentários:

  1. Bacana, Vitor. Você está entre as boas amizades que encontrei em 2011. Abraço!
    http://diariopopular.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?id=8&noticia=46712

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  2. Na verdade é isso que importa, saber que somos homens e mulheres comuns, mas únicos no coração daqueles que nos amam.

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