quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Caos & ruína

Aos 20 anos eu tinha uma visão catastrófica do mundo, especialmente da sociedade brasileira. Estava tudo errado, próximo ao estado de ruínas, em estágio de decadência acelerada. E somava-se a isto o fato do país viver sob um regime autoritário. O presidente Geisel falava em “abertura lenta, gradual e segura”, mas isso era algo que jovem algum – especialmente àqueles ligados ao movimento estudantil – pudesse levar a sério. Era 1975, eu cursava o segundo ano do Curso de História e meu sentimento mais íntimo era da mais completa repressão de tudo e de todos, da sociedade brasileira inteira.
Um dia expressei esse entendimento das coisas a um colega e ele me corrigiu. Lembro bem das suas palavras:
– Essa angústia é tua, Vitor.
E seguiu me explicando que as condições econômicas, sociais e políticas eram ruins para a maioria da população, mas que as pessoas viviam, não se entregavam. Lutavam cotidianamente contra as adversidades, sem vivenciar o sufocamento que eu sentia.
Dessa mesma época, guardo também a lembrança de certo dia sair correndo pela Avenida João Pessoa em direção ao consultório psiquiátrico e lá chegar espavorido:
– Eu corri, corri e senti que “eles” estavam atrás de mim, mas não sabiam – contei ao psiquiatra.
O terapeuta riu e perguntou:
– “Eles”, quem?
E terminei rindo também. A angústia era minha. Opressão e repressão sócio-políticas existiam, não eram metáforas da condição juvenil, no entanto eu as amplificava assustadoramente. De forma doentia, inclusive.
De lá pra cá, acredito que controlei esse sentimento de catástrofe e angústia, mas às vezes percebo que resvalo.
Outro dia, impregnado de informações a respeito da crise social e política na Grécia e em Portugal, tive a sensação de estar diante do último suspiro da civilização européia... Cruzei com um amigo no campus universitário, falei a respeito do assunto, e ele, displicentemente, comentou que a saída preconizada pela dupla Merkel & Sarkozy são necessárias e inevitáveis. Arrochar e implodir a periferia do euro, ele parecia dizer. Eu olhei para ele e o percebi como a encarnação da ditadura do capital e da barbárie.
Disse alguma coisa, indignado – estava escandalizado com a opinião do meu colega –, e segui adiante com a sensação de caos & ruína. Tinha novamente 20 anos e estava diante da catástrofe... E o meu amigo, subitamente, era um sereno senhor das antigas, alinhado à lógica do capital e coveiro dos melhores ideais da civilização.

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