quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Mudança para Porto Alegre

Minha família saiu de Pelotas e veio para Porto Alegre, em 1967. Eu tinha onze anos de idade e fui fazer a primeira série do ginásio no Colégio Rosário, tradicional escola marista. De manhã pegava o bonde para a escola e achava o máximo circular pela cidade grande. Menino nascido e crescido no interior do estado, sentia o movimento de Porto Alegre como algo grandioso. Gostava do ritmo da Capital e também da escola. Me sentia num novo mundo – “moderno”, eu diria mais tarde, ao me embrenhar na literatura de Erico Veríssimo – e, de repente, me dei conta que era motivo de chacota na escola pelo fato de ser pelotense.
Para um ou outro dos meus colegas, ter nascido em Pelotas era sinônimo de veado (“maricas”, se dizia na época) e eu sequer sabia o que era isso. Guri boboca, pouco sabia sobre sexo entre homem e mulher e muito menos entre homens. Um gordinho loiro passou a mão na minha bunda, na entrada da sala de aula, e eu achei que fosse brincadeira. Ri, contrafeito, e ele entendeu que eu gostara. A partir daí, virei o “corinho” da turma e as coisas se complicaram para o meu lado. Me queixei ao regente da turma – um professor leigo, sempre de paletó e gravata – e ele deve ter chamado atenção da turma, pois a gozação amainou. O gordinho, no entanto, nunca deixou de me olhar com um riso no canto da boca.
Esta situação marcou o meu primeiro ano de ginásio. Uma situação humilhante até hoje difícil de narrar. Quando o ano letivo encerrou, meu pai (que talvez nunca tenha sabido o que o filho viveu na escola) me transferiu de colégio. Passei para uma outra escola (também religiosa) e tive esperança de que a situação não se repetisse.
Mas me enganei. Um engraçadinho logo soube que eu era de Pelotas e a novela se repetiu. Mas eu já estava calejado e alguma coisa devo ter feito que calou os gozadores. Sei lá o que foi. Ou talvez nem tenha sido eu, mas o regente da turma quem agiu. A única coisa clara que lembro foi a humilhação que novamente vivi, assim como a raiva que tomou conta de mim em relação aos meus colegas, aprendizes na arte da macheza. Sei lá se precisavam de alguém para bater e se divertir (coisas da maldade infantil) ou se precisavam exorcizar as fantasias homossexuais que sentiam. O fato é que infernizaram a minha vida – e isto é muito difícil esquecer.

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