sábado, 7 de janeiro de 2012

Mulheres de biquini

As mulheres estavam de biquíni e desfilavam entre os convidados. As mulheres, no caso, eram a esposa do anfitrião, as duas filhas moças, uma cunhada, uma vizinha, todas devidamente acompanhadas pelos maridos ou namorados. As mais jovens com biquínis minúsculos e boa parte da bunda de fora. Tudo na maior naturalidade.
Meu amigo ficou indignado e disse baixinho:
– Tenho vontade de pôr a mão. Elas estão provocando, não estão?
– Fica frio – eu falei.
Nós dois éramos homens casados, estávamos lá com as esposas e, no meu caso, com os filhos pequenos também. Havíamos sido convidados para um churrasco de domingo, num sítio ao redor da cidade, e viéramos de bermuda, camiseta e sandália. Nossas mulheres estavam com vestidos leves, de alça, e não leváramos roupa de banho. Nem meus filhos vieram preparados para um mergulho no rio.
Meu amigo não conteve a indignação diante da semi nudez das mulheres da casa e comentamos isso durante semanas. Era início dos anos 90 e recém chegáramos a Santa Maria para lecionar na Universidade. Ele vinha de São Paulo; eu, de Porto Alegre. Ele se dizia conservador, eu fazia força para bancar o progressista.
E diante do exibicionismo feminino, como nos comportávamos? Achávamos natural que os seios se mostrassem para nós, mal  contidos pela parte de cima do biquíni, durante um churrasco familiar? Que uma coxa feminina bem torneada se revelasse em todo o seu esplendor e a encarássemos com indiferença, continuando a nossa prosa sobre o impeachment do Collor?
– Eu fico excitado – meu colega explicava, dias depois. – E me irrito porque não posso fazer nada, pois é a mulher do amigo, é a filha dela, é a puta que pariu, sei lá.
E sobre isso nós falávamos, insistentemente. Sobre as mulheres que víamos nas festas, na rua, cada vez mais insinuantes. E até sobre as alunas que entravam na nossa sala ele comentava:
– Esta está se exibindo. Olha a voz, observa o modo como fala, como se veste. A gente tem que fazer alguma coisa...
Eu falava que era assim mesmo – as mulheres estavam mais soltas, mais desinibidas e tínhamos que encarar com naturalidade ou coisa parecida. Mas meu colega não se conformava...

5 comentários:

  1. pois é, nós alunas,mulheres, enfim, seres humanos do sexo feminino, somos o fruto do pecado de voces, que sao vitimas e meros professores que apenas querem dar aula inocentemente.

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  2. Espero que isso não expresse sua opinião e seja apenas algo literário. Caso contrario é uma visão muito pequena em ralação as mulheres, sem falar que lembra muito aqueles senhores que a muito não podem "fazer nada", pois como sabemos o tempo passa e a gravidade mostra sua força!

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  3. Eu achei hilário e imaginei mesmo o início da "desinibição feminina" Muito bom texto.

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