sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Praça Saldanha Marinho

           Cruzo de noite a praça central de Santa Maria – Praça Saldanha Marinho – e a encontro mais escura que o habitual e completamente vazia. Então recordo a primeira vez que a conheci, trinta anos atrás, e passa um filme na minha cabeça.

Praça Saldanha Marinho. Foto de 2022.

Naquela noite, eu viera assistir a um show erótico no Cine Independência e saíra um pouco enojado do espetáculo. Tinha muita curiosidade em relação a esses espetáculos de sexo explícito, mas fora demais para mim. Difícil classificar: excitante por um lado, mas degradante também.

No final, duas mulheres de quatro, cada uma cima de uma cadeira com as bundas viradas para a plateia, encharcam as “partes” com vaselina e logo entram dois homens com as “ferramentas armadas”. É a cena do anal para finalizar a noite e um grupo de rapazes na primeira fila (com corte de cabelo cadete, provavelmente militares) bate palmas e incentiva os atores a irem fundo. Difícil descrever. Não dava para saber se a cena era erótica ou cômica. Acho que as duas coisas. Pornografia mistura tudo.

Viera com um colega professor assistir ao show e recordo que, depois do espetáculo, atravessamos a praça escura e ele foi fazer uma ligação interestadual de uma cabine telefônica. Eu me sentei num banco da praça e depois ele me contou, rindo, que uma prostituta viera falar comigo:

– Ela tava querendo fazer um programa e tu nem deu bola.

– Não notei – eu falei.

– Ela caminhava ao redor do banco e tu ali, parado, olhando pro chão. Deve ter te achado bêbado ou veado.

Foi essa a minha estreia na praça e me dou conta que já faz um bom tempo que não avisto prostitutas nessa área. Desde sempre cruzo a praça de noite e acho que fizeram uma “limpeza” no local. Às vezes, quando vou ao Teatro Treze de Maio, gosto de ficar pelas imediações depois do espetáculo terminar, vendo o movimento. As pessoas saem aos poucos, formam grupos na frente do teatro, conversam, riem, e vão se dispersando aos poucos. A praça tem vários públicos e ritmos, dá pra dizer.

Trinta anos atrás eu chegava na cidade, deixava o Magistério Estadual depois de treze longos anos lecionando em Alvorada, Canoas e Porto Alegre (desgostoso com o salário baixo) e apostava minhas fichas na Universidade Federal. Valeu a pena.

          O Cine Independência fechou (em 1995) e o local hoje abriga o chamado Shopping Popular (com os camelôs que antes ocupavam o canteiro central da Avenida Rio Branco) e nem sei se ainda existe uma casa que apresente espetáculos de sexo ao vivo. Deve existir, claro. Nunca mais fui. Mas tenho vontade de sentar num banco da praça e esperar o meu amigo terminar a sua ligação telefônica e depois sairmos andando pelo centro da cidade. Talvez na direção do Augusto, saudoso restaurante que fechou suas portas e onde “batíamos o cartão” seguidamente.

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