Mais um livro de viagem do jornalista Airton Ortiz, da
coleção “Aventuras pelo mundo”: Roma (Editora Benvirá, 2018, 166 p.). O
autor passou uma temporada na Cidade Eterna, provavelmente no inverno de 2017-18,
alugou um apartamento no bairro de San Giovanni junto com a irmã (conforme
informações do próprio escritor numa das crônicas do livro) e narra com muito humor
mais uma de suas aventuras urbanas. Com humor e muitas informações históricas,
artísticas e religiosas – sem descuidar da gastronomia e especial dos vinhos.
Não foi a primeira visita que o autor fez a Roma
(foram várias, segundo indica) e esse acúmulo de experiências, vivências e
leituras se traduzem em crônicas leves, agradáveis, feitas por visitante que percorre
a cidade com enorme satisfação e redobrado interesse.
Texto de leitura rápida, como o próprio escritor aponta,
satisfazendo assim tanto a pressa do leitor contemporâneo quanto a ansiedade que
um livro sobre uma cidade de tantas possibilidades cria. Afinal, Roma é uma
cidade que contém diversas camadas de história, variados estilos artísticos, variadas
manifestações religiosas, que atravessar as suas ruas – a famosa Via dei Fiori
Imperiali, por exemplo – é deparar-se tanto com as marcas do Império Romano, da
Igreja Católica, quanto das lutas pela Unificação e o período fascista.
Essa enorme quantidade de registros de diferentes
tipos dá uma certa aflição na maioria dos visitantes da cidade – e foi isso que
revivi lendo o livro. Haja imaginação para dar conta do desafio de conhecer essa
cidade, afirma o autor, e suas crônicas me parecer ser um auxílio nesse sentido.
Um livro que propõe um exercício de imaginação, que estabelece uma série de
roteiros sobre a Cidade Eterna, visando estabelecer significado para as tantas
ruínas romanas que se encontra (marcas de uma civilização soterrada – tão distante
de nós, cristãos ocidentais, quanto a japonesa), mais prédios renascentistas,
estátuas barrocas, fontes idem, códigos e signos variados.
Respeitando essa diversidade, Ortiz divide o livro em
três partes: a Roma dos romanos (do antigo Império Romano), a Roma dos
italianos (do Renascimento e do Barroco, especialmente) e a Roma dos papas (do
poderio da Igreja Católica). A respeito de cada um desses territórios
estabelece diversos roteiros, indicando ao leitor possíveis caminhos, possíveis
encantamentos com a paisagem urbana, com o interior das igrejas, dos museus, e –
quando isso cansar (e cansa mesmo) – qual cafeteria, qual restaurante, prato ou
vinho podem restabelecer as energias ou, simplesmente, proporcionar saborosas
atividades profanas.
Arte & religião são a tônica desse conjunto de crônicas
e o sublime é sempre uma possibilidade. Ao final da leitura, tenho a impressão
de que o leitor tanto fica instigado a ver, apreciar (ou rever, em alguns casos)
as maravilhas romanas – como prédios, igrejas, museus – como de beber os tantos
Chiante a que o autor se refere.
No meu caso, ver / rever a estátua “O êxtase de Santa
Teresa”, de Bernini (na igreja de Santa Maria da Vitória), e depois beber um cálice
de vinho numa enoteca. Apenas um cálice, quem sabe dois, nessas pequenas enotecas
romanas que tem a porta para alguma praça e que os frequentadores bebem na rua,
sentados nos degraus de uma fonte, sem nenhum som automotivo estragando a
imensidão da noite.
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