Livro escrito no final da década de 1940 por um
escritor alemão – C. W. Ceram – e publicado em 1949. Desde então, editado no
mundo inteiro com enorme sucesso. No Brasil, foi publicado pela Editora
Melhoramentos no início dos anos 50 e, pelo menos até 2005, ainda reeditado. Colocado
o título no Google, o leitor pode constatar que todos os sebos do Brasil têm um
ou mais exemplares.
Conforme explica o autor, o livro inspirou-se em “Caçadores
de micróbios” (1927), no qual a evolução da bacteriologia é apresentada com
elementos de narrativa policial. Para Ceram, a arqueologia também é passível de
tal abordagem e “Deuses, túmulos e sábios” traz um significativo subtítulo: “o
romance da arqueologia”. Intencionalmente, então, o autor se propõe a abordar de
forma romanceada o modo como as antigas civilizações – sumeriana, egípcia, babilônica,
assíria, cretense, grega, romana, e também maia e asteca – surgiram aos olhos do Ocidente
Moderno. E faz de arqueólogos-aventureiros – como o alemão Heinrich Schliemann
(que descobriu a cidade de Tróia) e o norte-americano Edward Thompson (que
descobriu a cidade maia de Chichen-Itzá) – os heróis da sua narrativa. Um livro
empolgante que coloca o leitor diante das escavações que trouxeram à tona
vestígios da história humana que foram esquecidas ou consideradas apenas lendas
durante séculos – as escavações e as posteriores interpretações do material
coletado.
Faço esse comentário lembrando as conversas que tive com Saul Milder, colega no Departamento de História da UFSM. Eu indicava esse livro aos alunos de História Antiga e Saul Milder, professor de arqueologia, me criticava por isso, dizendo que se tratava de uma obra que representava a arqueologia colonialista, dominante na Europa e Estados Unidos desde o século XIX, além de estar superada neste ou naquele aspecto histórico. Mas isso, me parece, não é motivo para deixar de ler o livro – desde que compreendidas as intenções do autor, claramente expostas no prefácio e no último capítulo, e considerando também a época em que foi escrito.
Faço esse comentário lembrando as conversas que tive com Saul Milder, colega no Departamento de História da UFSM. Eu indicava esse livro aos alunos de História Antiga e Saul Milder, professor de arqueologia, me criticava por isso, dizendo que se tratava de uma obra que representava a arqueologia colonialista, dominante na Europa e Estados Unidos desde o século XIX, além de estar superada neste ou naquele aspecto histórico. Mas isso, me parece, não é motivo para deixar de ler o livro – desde que compreendidas as intenções do autor, claramente expostas no prefácio e no último capítulo, e considerando também a época em que foi escrito.
Dividida em quatro partes, a obra abarca as escavações
e investigações do mundo greco-romano, Egito, Mesopotâmia e das civilizações
pré-colombianas da América Central e México. Como o eixo da narrativa é
constituída pelos arqueólogos-aventureiros, os estudos a respeito das antigas civilizações
da China, Índia e América do Sul (Incas) são deixados de lado, pois a
arqueologia aventureira pouco contribuiu no avanço desses povos, segundo o autor. Se o leitor
compreender isso, insisto, um livro fascinante a respeito de como a História se colocou aos olhos do Ocidente Moderno, desde Winckelmann, no século XVIII, com seus estudos de Arte Antiga, feitos a partir das recém descobertas Herculano e Pompéia.
“Os arqueólogos são muito chatos”, eu dizia para o meu
colega Saul Milder, “os divulgadores científicos são muito melhores”. Mesmo falando
isso, Saul Milder me convidava para as bancas de monografia de seus alunos de
Arqueologia (trabalhos na maioria das vezes descritivos, a respeito de sítios
arqueológicos indígenas ou outros, datados do período colonial ou das estâncias do século XIX) e eu
aprendia muito com a leitura, com a exposição dos alunos e com os comentários
do professor. “Ciência é isso aí”, ele afirmava, “um processo de investigação
lento e cumulativo”. Mas eu retrucava que os leitores comuns precisam é de um
Ceram para se empolgarem com esse conhecimento. Uma conversa onde sempre havia
um tanto de provocação e outro de boas gargalhadas.
Assim, se o leitor não for tão rigoroso, tão científico, é empolgante a leitura de “Deuses, túmulos e sábios: o romance da
arqueologia”, pois possibilita conhecer – por meio de personagens que encarnam o tipo investigador-aventureiro
– como a Europa escavou as cidades de Herculano e Pompéia, criou a egiptologia (a partir da expedição militar de Napoleão ao Egito) e a assiriologia, assim como a maneira como os Estados Unidos
trouxeram à tona as relíquias do mundo pré-colombiano. Nessa aventura pela história antiga, Heinrich
Schliemann (1822-1890) talvez seja a figura exemplar. Jovem, se encantou com a
poesia de Homero e acreditou que a Guerra de Tróia fosse uma verdade histórica,
quando todos os cientistas de sua época afirmavam não passar de uma lenda. Homem
adulto, se fez comerciante de êxito e depois empenhou sua fortuna para realizar
o sonho juvenil: descobrir Tróia. Escavou no local indicado por Homero e talvez
tenha descoberto a cidade destruída pelos aqueus – assunto que até hoje os
historiadores discutem. Mas, seja qual for o resultado da discussão, a história
grega nunca mais foi a mesma depois que Schliemann seguiu a senda de lendas,
poemas e de seu sonho juvenil.
Obs.: A edição que eu li é a da Melhoramentos, 1964, e não traz nenhuma informação sobre o autor. Mas feita uma pesquisa no Google, encontrei o seguinte: C.W. Ceram era o pseudônimo de Kurt Wilhelm Market (Berlim, 1915 - Hamburgo, 1972). O autor fora importante propagandista do Nazismo e, depois da guerra, quis esconder o seu passado.
Obs.: A edição que eu li é a da Melhoramentos, 1964, e não traz nenhuma informação sobre o autor. Mas feita uma pesquisa no Google, encontrei o seguinte: C.W. Ceram era o pseudônimo de Kurt Wilhelm Market (Berlim, 1915 - Hamburgo, 1972). O autor fora importante propagandista do Nazismo e, depois da guerra, quis esconder o seu passado.
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