sexta-feira, 15 de junho de 2018

A Revolução de 1932 no Rio Grande do Sul


Em 1932, as lideranças da Frente Única sul-rio-grandense romperam com Getúlio Vargas e comprometeram-se com os paulistas num movimento de rebelião ao Governo Provisório varguista. Entre esses líderes gaúchos estavam Borges de Medeiros e Flores da Cunha, do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), mais Raul Pilla e Batista Luzardo, do Partido Libertador (PL). Flores da Cunha era o interventor no estado (nomeado por Vargas) e o movimento dependia dos recursos que Flores dispunha como chefe de governo (o comando da Brigada Militar) para o sucesso militar da revolta.

Quando se aproxima a eclosão do movimento, no entanto, Flores retoma os laços de lealdade para com Vargas e deixa os companheiros na mão. As operações militares contra o Governo Provisório iniciam em São Paulo, no mês de julho, as lideranças paulistas contam com o apoio gaúcho, mas as lideranças gaúchas não conseguem se mobilizar. Borges de Medeiros e Batista Luzardo são “presos” em Porto Alegre e os focos de revolta no estado ficam contidos no nascedouro. Flores conhecia os planos dos rebeldes e traz as lideranças do movimento sob estrita vigilância.

Uma vigilância, no entanto, que não implicava em trancafiar os líderes em prisões. Luzardo vivia num hotel da Rua Andrade Neves, Borges na sua residência na Rua Duque de Caxias, e eram apenas vigiados por agentes policiais. Luzardo se disfarça de padre e burla os policiais, Borges também engambela os seus secretas durante um passeio matutino e ambos partem para o interior do Estado com o propósito de estabelecer um “foco revolucionário”.

Forma-se então a Coluna Luzardo e o propósito inicial é tomar Santa Maria (em função do papel estratégico da cidade quanto ao controle da malha ferroviária), mas o projeto não vinga e a coluna, com um efetivo de aproximadamente 200 homens, se encaminha para o sul. Enquanto isso, apenas na região de Soledade um outro foco de luta é criado (pelo general Candoca), porém logo contido.

A Coluna Luzardo marcha pela região da Campanha e no dia 19 de setembro acampa na estância de Cerro Alegre, nas proximidades de Piratini.  No outro dia, 20 de setembro, 700 homens das forças legalistas cercam os rebeldes e os levam à rendição após algumas horas de tiroteio. É o último combate da Revolução de 32 no Rio Grande do Sul. Alguns dizem que é o fim de um ciclo revolucionário que iniciou com a Revolução Farroupilha, mas isso é um exagero. Historiadores mais apegados a ideia de uma tradição revolucionária sul-rio-grandense costumam endossar essa interpretação, no entanto trata-se apenas do esgotamento das revoltas oligárquicas no estado, as quais, no que diz respeito ao quesito “revolucionário” (mudança de estrutura social) são questionáveis.

Seja como for, essa temática histórica (a do ciclo revolucionário) é um filão que alimenta boa parte da nossa literatura de feição memorialística, historiográfica e ficcional, e muitos de nós gastam horas em torno desse assunto. Um tema fascinante, constitutivo da nossa identidade regional. No caso da Revolução de 32 – e em especial do compromisso que os gaúchos assumiram com os paulistas – trata-se de um episódio histórico que muitos de nós ouviram os avós, os pais e os tios comentarem animadamente, xingando-se uns aos outros e também fazendo piadas, rindo. Menino, eu ouvia o pai e meu avô materno tratarem desse assunto, indagarem por que os gaúchos romperam a palavra dada aos paulistas, e me empolgava.



Foi com essa memória de menino que li essa semana o livro Pela palavra empenhada: a Revolução de 1932, de Blau Souza e Zeno Chaves (PoA: AGE, 2012. 184 p.), uma investigação histórica e memorialística sobre o episódio revolucionário de 32 no cenário sul-rio-grandense. Como o próprio título indica, uma investigação que tem como eixo a pergunta a respeito de como as lideranças gaúchas lidaram com a “palavra empenhada” aos paulistas. Uma palavra (compromisso) que a gauchada não manteve.

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