Em 1932, as lideranças da Frente Única
sul-rio-grandense romperam com Getúlio Vargas e comprometeram-se com os
paulistas num movimento de rebelião ao Governo Provisório varguista. Entre
esses líderes gaúchos estavam Borges de Medeiros e Flores da Cunha, do Partido
Republicano Rio-Grandense (PRR), mais Raul Pilla e Batista Luzardo, do Partido
Libertador (PL). Flores da Cunha era o interventor no estado (nomeado por
Vargas) e o movimento dependia dos recursos que Flores dispunha como chefe de
governo (o comando da Brigada Militar) para o sucesso militar da revolta.
Quando se aproxima a eclosão do movimento, no entanto,
Flores retoma os laços de lealdade para com Vargas e deixa os companheiros na
mão. As operações militares contra o Governo Provisório iniciam em São Paulo,
no mês de julho, as lideranças paulistas contam com o apoio gaúcho, mas as
lideranças gaúchas não conseguem se mobilizar. Borges de Medeiros e Batista
Luzardo são “presos” em Porto Alegre e os focos de revolta no estado ficam contidos
no nascedouro. Flores conhecia os planos dos rebeldes e traz as lideranças do
movimento sob estrita vigilância.
Uma vigilância, no entanto, que não implicava em
trancafiar os líderes em prisões. Luzardo vivia num hotel da Rua Andrade Neves,
Borges na sua residência na Rua Duque de Caxias, e eram apenas vigiados por
agentes policiais. Luzardo se disfarça de padre e burla os policiais, Borges também
engambela os seus secretas durante um passeio matutino e ambos partem para o
interior do Estado com o propósito de estabelecer um “foco revolucionário”.
Forma-se então a Coluna Luzardo e o propósito inicial
é tomar Santa Maria (em função do papel estratégico da cidade quanto ao
controle da malha ferroviária), mas o projeto não vinga e a coluna, com um
efetivo de aproximadamente 200 homens, se encaminha para o sul. Enquanto isso,
apenas na região de Soledade um outro foco de luta é criado (pelo general
Candoca), porém logo contido.
A Coluna Luzardo marcha pela região da Campanha e no
dia 19 de setembro acampa na estância de Cerro Alegre, nas proximidades de
Piratini. No outro dia, 20 de setembro,
700 homens das forças legalistas cercam os rebeldes e os levam à rendição após
algumas horas de tiroteio. É o último combate da Revolução de 32 no Rio Grande
do Sul. Alguns dizem que é o fim de um ciclo revolucionário que iniciou com a
Revolução Farroupilha, mas isso é um exagero. Historiadores mais apegados a
ideia de uma tradição revolucionária sul-rio-grandense costumam endossar essa
interpretação, no entanto trata-se apenas do esgotamento das revoltas
oligárquicas no estado, as quais, no que diz respeito ao quesito “revolucionário”
(mudança de estrutura social) são questionáveis.
Seja como for, essa temática histórica (a do ciclo
revolucionário) é um filão que alimenta boa parte da nossa literatura de feição
memorialística, historiográfica e ficcional, e muitos de nós gastam horas em
torno desse assunto. Um tema fascinante, constitutivo da nossa identidade
regional. No caso da Revolução de 32 – e em especial do compromisso que os
gaúchos assumiram com os paulistas – trata-se de um episódio histórico que
muitos de nós ouviram os avós, os pais e os tios comentarem animadamente,
xingando-se uns aos outros e também fazendo piadas, rindo. Menino, eu ouvia o
pai e meu avô materno tratarem desse assunto, indagarem por que os gaúchos romperam
a palavra dada aos paulistas, e me empolgava.
Foi com essa memória de menino que li essa semana o
livro Pela palavra empenhada: a Revolução
de 1932, de Blau Souza e Zeno Chaves (PoA: AGE, 2012. 184 p.), uma
investigação histórica e memorialística sobre o episódio revolucionário de 32 no
cenário sul-rio-grandense. Como o próprio título indica, uma investigação que
tem como eixo a pergunta a respeito de como as lideranças gaúchas lidaram com a
“palavra empenhada” aos paulistas. Uma palavra (compromisso) que a gauchada não
manteve.
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