segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Leitura na escola

        Quando eu era guri de ginásio, ouvi um professor dizer em sala de aula que um bom exercício para escrever era a feitura de um diário. Comecei, fiz um diário das minhas férias de inverno daquele ano (1969), peguei o “vício” e passei a escrever diariamente.
Na década de 90, reencontrei esse material e o utilizei para uma novela juvenil, que denominei Jorge encontra Lilian. Eu andava escrevendo livros paradidáticos para a Editora FTD e achei que poderia emplacar um texto ficcional também. Apresentei os originais para a editoria de literatura juvenil, mas não rolou. A literatura juvenil havia mudado e eu não percebera. Os textos publicados enfocavam temas contundentes – devastação do meio ambiente, consumo de drogas ilegais, AIDS – e a minha história passava longe de tudo isso. Não tinha nenhum apelo dramático. Era a simples narrativa de um menino introspectivo, de classe média, descobrindo o mundo e, especialmente, o sexo oposto. A editora publicara um livro do gênero e não se arriscaria em mais um título.  “Isso vende pouco”, a editora me disse.
Eu não apresentei os originais para outra editora e tratei de encarar a coisa de forma independente. Contratei um diagramador profissional, ele fez o projeto gráfico, a capa, e mandei imprimir. Fiz mil exemplares e vendi mais da metade nas escolas de Ensino Fundamental de Santa Maria e região, entre alunos de sétima e oitava séries. Contei com a colaboração de professores de Língua Portuguesa, que adotavam a novela nas suas turmas, e a coisa funcionou. Era início dos anos 2000 e fui em várias escolas conversar com meus leitores.
Nesse ano, soube que o livro ainda é adotado numa escola de Santa Maria e fui novamente conversar com os alunos. Constatei que a novela continua sendo lida, compreendida, mas não senti grande entusiasmo por parte da gurizada. Eles estão noutra, pensei. Um menino me perguntou sobre a literatura fantástica, por que eu não enveredava por esse caminho, e percebi que não estou em sintonia com os novos leitores. O livro que entusiasma os leitores jovens é alguma coisa que envolva elementos sobrenaturais e não sei fazer isso. Se quisesse emplacar meu Jorge encontra Lilian, imagino que o Jorge deveria ser a encarnação de um viking do século IX, navegando numa nau interespacial, em busca de um amor redentor em alguma megalópole sul-americana. O imaginário juvenil me parece que anda por aí. O jovem leitor que me questionou talvez seja representativo desse público leitor.
E voltei para casa pensando que aquele rapazinho - de modo semelhante ao que eu fazia nos final dos anos 60 - está escrevendo diariamente. Mas na certa não produz um diário e, sim, um texto no qual um jovem herói viaja no tempo, desafia os limites da vida e da morte, e se utiliza de tecnologias não acessíveis aos mortais comuns. Outros tempos.

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