domingo, 22 de abril de 2012

Xingu – o filme

Xingu é o título do filme de Cao Hamburger, inspirado na vida dos irmãos Villas-Boas – Orlando, Cláudio e Leonardo – que está passando no cinema. Inicia quando os três irmãos resolvem participar das expedições promovidas pelo Estado Novo para explorar a região Centro-Oeste, em 1943, e termina no início dos 70, quando a Transamazônica está sendo construída e eles são indicados ao Prêmio Nobel da Paz.
No início, são apenas jovens aventureiros e, na seqüência, estão engajados na causa indígena. Fazem contatos com tribos que vivem isoladas do homem branco e a cena em que realizam essa tarefa pela primeira vez é narrada de forma impactante. O filme não chega a ser épico, mas esse primeiro encontro dos sertanistas com os índios aproxima a narrativa do gênero. De certa maneira, é o contato dos brancos com o paraíso perdido, isto é, com o mundo primitivo e selvagem – comumente idealizado.
O filme é construído a partir do embate entre a civilização branca e o mundo selvagem dos indígenas, e é breve na contextualização histórica da trajetória dos Villas-Boas. A representação dos índios é positiva e pode-se dizer que há cuidado em não romantizá-los. Inegavelmente, porém, os fazendeiros, políticos e militares estão caricaturizados – os vilões da história – e terminamos torcendo por Orlando, Cláudio e Leonardo como se eles fossem “mocinhos”. (Por sinal, representados por excelentes atores.) Essa simplificação não prejudica a narrativa e coloca o espectador, isto sim, emocionalmente ligado à luta dos sertanistas. Cinema para comover até o fundo da alma. A criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961, coroa a narrativa.
Ficam esboçados com clareza alguns aspectos do drama indígena: os massacres, a perda das terras e do estilo tradicional de vida, assim como os limites da ação dos indigenistas. O mundo indígena, provavelmente, está fadado ao fim, mas os irmãos Villas-Boas souberam defendê-los ou, pelo menos, preservá-los de um final trágico. “Ao menos chegamos antes”, diz um dos irmãos, reconhecendo os méritos e limites da sua empreitada. Eles salvaram muitas tribos da extinção, conseguiram a criação de uma reserva – o Parque Xingu – e lá estão dezenas de aldeias, até hoje.
Os índios pouco falam no filme e são os brancos os protagonistas centrais. A última cena, no entanto, é a de um índio pilotando um avião sobre a selva amazônica e indica que os indígenas conseguirão, sim, reiventar suas culturas e identidades. Reinventá-las com os instrumentos da civilização branca.
Nem tudo está perdido, nos sugere a cena. Nem tudo.

Um comentário:

  1. Salve Vitor,
    não vi o filme, mas gostei do teu artigo, afinal, as vezes, precisamos de filmes que apresentem a velha luta entre "mocinhos" e "bandidos". Um abraço, André Fertig.

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